Andava há uns meses a fabricar uns nódulos nas axilas, que mas faziam parecer belos, férteis e fartos campos de batata doce. Não há paralelo melhor, perpendicularmente falando. Consultei um médico, ou seja, um médico consultou-me... eh, pá, não sei quem consulta quem, numa consulta, mas ó: consultámo-nos, sendo que ele era (e só já não é, porque morreu) uma sumidade na dermatologia portuguesa e eu uma mulher — que ainda sou —, com uma considerável prole de três bonecas, a maior de todas com cinco anos de idade e a mais pequena com meses. Isto, para além do óbvio transtorno que ali me levava, que era o tratamento do meu batatal. Quando entrei no consultório, constatei que a pessoa que ia colher os tubérculos que a natureza se encarregava de semear em tão inóspito lugar, era um homem muito mais velho do que eu havia imaginado, vestido com a bata branca da velha medicina que não acredita nem nunca ouviu falar nas mariquices do medo da bata branca. Ele viu, pegou numa lanceta, abriu, sangrou e pôs penso. Isto podia ter sido a solução para o meu assunto, só que não foi, e continuei a produzir batatas como se já tivesse o óleo ao lume. Andámos, o médico e eu, umas semanas naquele ritmo alucinante — ele, de lanceta em punho, eu de axilas em riste.
Até que ele se fartou daquele romance purulento (e eu também andava um bocadinho cansada), e entendeu que a solução teria que passar pela faca mais afiada que ele lá tinha na imaginação e na sala de cirurgia. Para tanto, quis preparar-me e, ao mesmo tempo, usar um método que evitasse o nascimento de novos nódulos e, por isso, receitou-me um antibiótico poderoso, chamado Tetramox (o nome é muito importante neste meu conto), que eu deveria tomar até ao dia da cirurgia, vagamente pensada para dali a três ou quatro semanas. Disse-me ele que me iria fazer uma escavação em profundidade — que eu entendi como uma espécie de lobotomia sovacal, na qual perderia todas as qualidades daquelas duas zonas, sejam lá elas quais forem —, qual mineiro chileno (expressão que não é minha, mas é tão boa que não resisto a usá-la. Obrigada, F.), atalhando explicações mais detalhadas, eventualmente devido à minha expressão aterrorizada, com um
Filha, ficas aí com duas costuras, mas, em compensação, nunca mais tens pêlos,
o que eu até achei agradável, uma vez que a depilação definitiva se encontrava nos seus primórdios, e nem eu tinha como enfrentá-la, uma vez que ele me ia todo para as fraldas.
Ora, eu andava feliz com um dispositivo intra-uterino cá dentro do útero. Para quem não saiba, o DIU liberta cobre, que é o que inibe a valentia da bicharada espermatóide e a impede de brincar à caça ao ovo, seja Páscoa ou não. Para quem também não saiba, a tetraciclina do Tetramox inibe a produção de cobre ao DIU.
Ora, vamos lá a números: eu disse ali em cima que tinha três bonecas, certo? Uni-bi-tri...
Lá para os gregos, o quatro é o quê?
Os sinais que a vida nos dá estão todos no lugar, nós só temos que aprender a lê-los.
E foi assim que, passados nove meses, me apresentei na sala de cirurgia, sim senhores, e o cirurgião me bisturou, é certo — mas não as axilas, e sim um pouco abaixo, tendo feito de mim a tetra mais feliz e orgulhosa deste planeta e dos outros, incluindo os anões e tudo.
Faz hoje quinze anos.
Até que ele se fartou daquele romance purulento (e eu também andava um bocadinho cansada), e entendeu que a solução teria que passar pela faca mais afiada que ele lá tinha na imaginação e na sala de cirurgia. Para tanto, quis preparar-me e, ao mesmo tempo, usar um método que evitasse o nascimento de novos nódulos e, por isso, receitou-me um antibiótico poderoso, chamado Tetramox (o nome é muito importante neste meu conto), que eu deveria tomar até ao dia da cirurgia, vagamente pensada para dali a três ou quatro semanas. Disse-me ele que me iria fazer uma escavação em profundidade — que eu entendi como uma espécie de lobotomia sovacal, na qual perderia todas as qualidades daquelas duas zonas, sejam lá elas quais forem —, qual mineiro chileno (expressão que não é minha, mas é tão boa que não resisto a usá-la. Obrigada, F.), atalhando explicações mais detalhadas, eventualmente devido à minha expressão aterrorizada, com um
Filha, ficas aí com duas costuras, mas, em compensação, nunca mais tens pêlos,
o que eu até achei agradável, uma vez que a depilação definitiva se encontrava nos seus primórdios, e nem eu tinha como enfrentá-la, uma vez que ele me ia todo para as fraldas.
Ora, eu andava feliz com um dispositivo intra-uterino cá dentro do útero. Para quem não saiba, o DIU liberta cobre, que é o que inibe a valentia da bicharada espermatóide e a impede de brincar à caça ao ovo, seja Páscoa ou não. Para quem também não saiba, a tetraciclina do Tetramox inibe a produção de cobre ao DIU.
Ora, vamos lá a números: eu disse ali em cima que tinha três bonecas, certo? Uni-bi-tri...
Lá para os gregos, o quatro é o quê?
Os sinais que a vida nos dá estão todos no lugar, nós só temos que aprender a lê-los.
E foi assim que, passados nove meses, me apresentei na sala de cirurgia, sim senhores, e o cirurgião me bisturou, é certo — mas não as axilas, e sim um pouco abaixo, tendo feito de mim a tetra mais feliz e orgulhosa deste planeta e dos outros, incluindo os anões e tudo.
Faz hoje quinze anos.
É caso para dizer que "há males que vêm por bem" :) Parabéns!
ResponderEliminarUm grande beijinho para os dois e um dia muito feliz :)
E como! Dizia a bula do antibiótico, no final da lista dos efeitos adversos, que contactasse o laboratório no caso de sofrer algum outro que não constasse daquela lista :)
EliminarObrigada, Miss Smile. Um beijinho também, e um dia feliz :)
Surpreendes-me sempre, mas desta vez até meti a cabeça levemente para trás! What? Não imaginava esse desfecho ou esse início, que depende do lado que se vê a coisa.( não soou muito bem, mas tu não levas a mal! Opá tens esse efeito em mim, desorientas-me as palavras... Beijinhos
ResponderEliminarÓ ié. Um DIU que se fez menino :)
EliminarBeijinhos, Sofia :)
Parabéns!! Que rica história!! E as batatas (serei a única que ficou a pensar no médico idoso de bata a lancetar uma e outra vez as tuas axilas?) acabaram com as hormonas ou voltaram após a intervenção do cirurgião numa zona mais abaixo da área sovaqueira?
ResponderEliminarTitá Negrão
Obrigada :)
EliminarAs hormonas não acabaram, o médico é que teve que me dar um nó nas trancinhas após a chegada do rapaz. Já levava quatro césares no lombo, isto é, nas costas do lombo, e ele não quis arriscar a quinta. O medricas.
:)
Afinal havia outro :) Parabéns!
ResponderEliminarBeijos ;)
E eu sem nada saber, sorria :)
EliminarObrigada, Té.
Beijos.
15 anos! Parabéns! (mas já sabes o que uma adolescente de 15 anos faz à nossa vida...Eheheh)
ResponderEliminarObrigada! (É rapaz, este. Sei o que fazem três raparigas adolescentes, queres melhor? :D)
EliminarSó fiquei com uma dúvida... e os pêlos?! :p :p
ResponderEliminarQue volta do caraças! Parabéns! ;)
Não cheguei a fazer a cirurgia escavatória :P
EliminarObrigada, Doce :)