01/08/2015

menino da mamã do menino

Fui deixá-lo à porta de um amigo, com quem, ele e mais sete rapazes, foi passar o fim-de-semana fora. Palpita-me o coração, apesar de o saber bem entregue — vão dois adultos — e do disparate, dizem, que é pensar que ele é pequenino toda a vida. Começo a fazer a manobra de estacionamento e ele pede-me que não estacione. Chega-lhe o carro parado, para poder sair e tirar a mala — tão eu, uma mala gigante para dois dias —, não acha necessário que estacione. 

- E não saias do carro. Não é preciso.

Avisto mais dois rapazes, a uns cinco metros de onde nos encontramos, à porta do prédio onde o vou deixar, que lhe acenam. 

- Estão ali os meus amigos.

- Já vi. Eu não saio do carro. Olha, porta-te bem, sê educado, agradece à mãe do Jorge, liga-me quando chegares, ou manda-me uma mensagem, liga-me sempre que precisares, cuidado com os mergulhos...

- Vou-te dar só um beijinho de despedida, está bem?

-... sabes que és precioso, não sabes? — Estou quase sem fôlego, mas revejo mentalmente a lista das recomendações, a ver se falta alguma, enquanto espanejo os fantasmas, que não falta nenhum. — Está bem, dá-me só um beijinho, para eles não falarem.

Avanço a cabeça para a dele e sinto-lhe o beijo na face. Então, abraça-me e eu abraço-o. E dá-me segundo beijo, terceiro beijo, e perdemo-nos na contagem, porque temos um amor igual, descarado e infinito, e já nos esquecemos completamente dos dois rapazes que estão à espera dele à porta do prédio, e da possibilidade de lhe chamarem menino da mamã, que é quase tão insultuoso como aquele outro, que ele não admite a ninguém, nem mesmo como jargão no auge da briga mais acesa. 

Sai do carro, a cada passo mais homem e menos menino, e deixa-me ali, bem-aventurada, mamã do menino.


2 comentários:

  1. Até me escapou uma lagrimita... :)

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    1. Eles são assim, Be, muito mais do que elas. Tu sabes :)

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