Tenho sono.
Os vizinhos de cima discutem até altas horas da madrugada. Ouço estrondos lá no inferno, enquanto ele grita desalmadamente, o que me leva a crer que está para breve o dia em que me têm à porta e à perna, ou que meto pés ao caminho e a Porca torce o rabo (a um deles, ou, se estiver bem disposta, aos dois). Capaz até de chamar as autoridades, que é sempre de bom tom invadir o cortiço dos outros escoltada, não venham de lá com aquela treta da colher e de que entre marido e mulher e eu ai, desculpe, não sabia que eram marido e mulher, pensei que fossem cão e gato, Bobi e Tareco, esta minha cabeça já não é o que era.
Por isso, acho que hoje, ao contrário do que é costume, não me vai sair nada de superiormente inteligente, porque só me passam almofadas e melodiazinhas de caixa de música pelo neurónio sobrevivo.
Então, acordei e pensei no meu spray desodorizante para a casa-de-banho.
Eu costumo comprar um que diz que cheira a brisa marítima. Não é bem ao que fica a cheirar, mas vá que é aproximado, se imaginarmos que é possível existir um qualquer mar que se espraie numa ETAR.
Acontece que a chafarica do tio Mimiro, ao cabo de largos anos de receber o equivalente a um salário na minha compra mensal online, e cansados que hão-de estar por eu nunca escolher aquilo que eles chamam preferências de substituição (estava bem arranjada, em 50 ou 60 artigos, decidir quais haviam de me trazer, caso não tivessem os meus no armazém. Oh, pá, não têm, vão à pesca, que a minha vida não é só isto, e a seguir pediam-me as preferências de substituição das substituições), este mês, por sua excelsa auto-recriação, substituíram o aroma de meu spray do cagadócio por um que responde pelo nome de pomegranate. Um susto. Eu, muito mais gálica do que anglo-saxónica, faço uma tradução livre, leve e loira, e leio batata-granada. Mas acalmei-me e usei-o, tendo ficado com a casa-de-banho a cheirar não a romãs (agora a sério, fabricantes de aromas pós-defecação, o que vos ocorreu quando criaram o de romã? Romã? Eu pergunto mais devagarinho: romã? Pois. E depois a maluca sou eu), mas a sumos de morango em pó, ou uma porra muito corantes-e-conservantes, muito anos 70's.
E não consigo deixar de fazer a feliz associação bomba com bomba, de cada vez que largo a granate do sprayzinho a soprar o ar...
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