17/08/2015

Também tive os meus pontos altos, estas férias # 2

Ou
De como certos donos de cães e certos donos de gatos não falam a mesma linguagem, ão-ão, miau-miau

Levámos uma das gatas e a outra ficou. Levámos a Mel, ficou a Mia.
A primeira e penúltima vez que levámos a Mia, foi uma tortura para ela e outra para nós. A conselho da veterinária, drogámo-la: tomou um calmante, que devia ser para leões, fez logo efeito, e pôs os olhos da bicha brancos. Desapareceram-lhe as meninas. Depois, a viagem foi um suplício, com ela metida na gateira, a chorar — a chorar, eu repito —, uma coisa tipo martelo de pedra, de partir o coração mais empedernido, durante todo o caminho, a dormir zero minutos. Chegada ao destino de férias, esteve 36 horas desambientada, desconfiada, assustada, escondida, sem se alimentar nem usar a caixa. No regresso, o mesmo calvário. 
A Mel entra na gateira por sua iniciativa (mais à ida para férias do que à volta), tiramo-la de lá mal entramos na autoestrada, faz a viagem toda à solta *, aninha-se, dorme, não pia nem bufa. Chega ao local de férias e ambienta-se imediatamente, adopta cantos, percebe o local da areia e da comida, um céu, um mel.

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* pausa para explicar que sei que dá multa e que nos faz incorrer num perigo acrescido, em caso de travagem brusca ou embate — o animal pesa 4,5 quilos, e eu também sei essa da massa vezes aceleração. Mesmo que a física não existisse, sempre seria um pedregulho de 4,5 quilos a voar dentro do carro, que poderia sei lá, acertar-me em cheio na tola.

Às vezes questiono-me se não seria de explicar essa lei da física aos condutores que persistem em levar as crianças à solta dentro do carro. Já nem digo pela vida e pela integridade dos filhos, mas pela deles mesmos. Estou, aliás, convencida, que muitos daqueles que permitem que as crianças andem sem cinto, passariam a obrigá-las a pô-lo, caso soubessem que, numa situação de embate, uma pessoa com 20 kg de peso se pode transformar numa pedra com o peso que tem, multiplicado pela aceleração, que até pode ser de 60 km/h, o que a transforma num rochedo de cerca de 600 quilos. E que, para além do exponencial aumento das probabilidades de morte da criança, aumentam também, da mesma forma, as probabilidades de morte dos passageiros da frente — ou seja, de quem permitiu a soltura no habitáculo.

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Bem, quando chegámos, esperavam-nos os donos do apartamento, mãe e filho. A mãe trazia ao colo uma amostra de cão, chiwawa, que eu pensei que era uma cria, e logo Ai que amor, que fofura, parece um brinquedo, como é que se chama?, é cão ou cadela?, cujas respostas foram, pela mesma ordem, Já é adulto, este é o Salazar, e é um menino. Tudo a ribombar-me nos tímpanos já de si fragilizados pela viagem, ainda ouvi Mas é uma criança autêntica, não pode ver a Matilde, que se põe a mamar nas maminhas dela, Jesus se não é verdade que me parou a boneca e fiquei mais quietinha que um rato, mas dos mortos, com medo de perguntar se a Matilde é uma cadela (ou não...!?), mas, simultaneamente, e à cautela, já não me aproximei mais do Salazar, não fosse ele achar-me suculenta e apetitosa (que sou, mas porra), e até mantive uma certa distância do leicãozinho, assim com os braços discretamente cruzados.


4 comentários:

  1. Eeerrr, eu também não me aproximava muito do Salazar, não... just in case :p

    * Totalmente de acordo. No meu caso, recuso-me a viajar com alguém atrás de mim que não leve cinto de segurança. Sou rija e cabeça dura, mas nem tanto!

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  2. Epá... Salazar é um nome porreiro para um buldog ou, sei lá, um pitbull raivoso. Assim a um pitinho irritante (porque já tive um no colo e não parou de tremer - disseram-me que são bichos que têm medo da própria existência) chamava-lhe outra coisa qualquer. Qualquer coisa a ver com comida. tagliatele, pistacio, cacauete... por aí. xD

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    1. :D
      Ou um nome relacionado com uma fobia esquisita, tipo afobia (medo da falta de fobias — vulgo falta de mais o que fazer), ou anatidaefobia (medo de ser observado por patos — say what?)...

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