17/08/2015

Ficas a olhar para o céu durante vinte minutos

Repetimos a receita, em todas as suas fases. A mim, calha-me, de novo, picar a cebola. Deixo os coentros para o fim, para me perfumarem as mãos. Sei que era capaz de me atirar para um campo de coentros, se em campos os houvesse, acabadinho de ser chovido, rebolar-me bem rebolada nele, e dormir em paz, até que o céu me acordasse para a vida outra vez.
Sorrio só de me recordar da conversa que tivemos, da última vez que preparámos o prato de bacalhau desfiado com grão. E rio-me, lembrando-a a ela:

- E quando tu me disseste que eu não tinha que me meter debaixo de água para picar a cebola?

Ela baixa as duas mãozinhas, que estão a desfiar o bacalhau, olha para mim — é tão bonita que só apetece emoldurá-la —, faz uma expressão séria, sempre traída pelos olhos que riem (há pessoas assim, que riem com os olhos, ou que os olhos lhes riem, mesmo que o semblante se mantenha neutro), quebra num sorriso e responde-me:

- E essa não seria uma hipótese que tu considerasses? A mesma pessoa a quem eu falo em pão verde, fica a olhar para o céu durante vinte minutos, e, no fim, vira-se para mim, e pergunta O pão é verde?...


2 comentários:

  1. É tão bom ser uma sonhadora, não é?

    Beijos, Lindinha azul. :)

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    1. Completamente incontrolável, pelo menos :)

      Beijos, Marioskita :)

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