Repetimos a receita, em todas as suas fases. A mim, calha-me, de novo, picar a cebola. Deixo os coentros para o fim, para me perfumarem as mãos. Sei que era capaz de me atirar para um campo de coentros, se em campos os houvesse, acabadinho de ser chovido, rebolar-me bem rebolada nele, e dormir em paz, até que o céu me acordasse para a vida outra vez.
Sorrio só de me recordar da conversa que tivemos, da última vez que preparámos o prato de bacalhau desfiado com grão. E rio-me, lembrando-a a ela:
- E quando tu me disseste que eu não tinha que me meter debaixo de água para picar a cebola?
Ela baixa as duas mãozinhas, que estão a desfiar o bacalhau, olha para mim — é tão bonita que só apetece emoldurá-la —, faz uma expressão séria, sempre traída pelos olhos que riem (há pessoas assim, que riem com os olhos, ou que os olhos lhes riem, mesmo que o semblante se mantenha neutro), quebra num sorriso e responde-me:
- E essa não seria uma hipótese que tu considerasses? A mesma pessoa a quem eu falo em pão verde, fica a olhar para o céu durante vinte minutos, e, no fim, vira-se para mim, e pergunta O pão é verde?...
É tão bom ser uma sonhadora, não é?
ResponderEliminarBeijos, Lindinha azul. :)
Completamente incontrolável, pelo menos :)
EliminarBeijos, Marioskita :)