01.08.2009
Erros meus, má fortuna, amor
ardente
Estou pasma. Isto não se faz.
Domingos Amaral. Só ainda não li o mais conhecido
dele (“Enquanto Salazar dormia”), porque tentei e não agarrei. Mas hei-de. Li o
“Já ninguém morre de amor” – sim, pois, os “meus títulos” têm, geralmente, a
palavra amor. Há quem só compre títulos com a palavra chocolate (está provado,
não inventei nada). Esse romance é uma pérola de bem escrito. Notável a
passagem em que o protagonista perde o filho na praia. É aquilo mesmo, sem
tirar nem pôr.
Peguei no primeiro romance dele, “Amor à primeira vista” e
dou com ele cravejado de erros ortográficos. A colocação das vírgulas caótica.
Estou na página 30 e tais e já não me apetece continuar a ler. Sinto-me
roubada. Paguei 13 euros por este rascunho.
Começo a suspeitar que tanto os nossos autores como quem
lhes faz a revisão gráfica confiam demasiado no corrector ortográfico do word.
Só que ele não distingue erros de sintaxe. Tanto lhe faz que escrevamos à
ou há, sabe lá ele o que é que é o correcto naquela frase! Mas deixar
passar lês-te em vez de leste (2.ª pessoa do singular, verbo ler,
indicativo, pretérito perfeito) é de mestre. Mestre de obras, bem entendido. E
mal comparado. E sem ofensa aos mestres de obras.
Andei à procura da editora para lhes escrever a dar conta
dos lapsos. A Casa das Letras é uma “subeditora” da Oficina do Livro.
Não tem site próprio. Na Oficina do Livro não existe um mail ou um campo
para comentários. O livro que estou a ler nem sequer consta do site. Penso que
não existe. Será fruto da minha imaginação tortuosa, ou do meu delírio enquanto
purista da língua.
Cansada de dar murros em pontas de facas, e a sentir-me uma
andróide, pus-me a reconsiderar a minha postura diante das letras. Serei uma
fanática solitária? Serei a última das amantes do português bonito? Qualquer
das hipóteses me serve à luva. Já nem procuro a origem deste rigor. Montanhas
de gente que teve os mesmos professores que eu, e está-se nas tintas para as
cores do texto. Quantos não chegaram à faculdade a dar erros de palmatória,
quantos não saíram de lá a escrever mal na mesma, ou ainda pior, depois de um
crivo tão mais rigoroso que o do liceu? E ainda se viram para quem os corrige a
chamar nomes, ainda que essa correcção seja privada e subtil. Dá a sensação que
têm orgulho no erro. Estão na moda.
Nem me vou alongar para o assunto blogues. Isso então, é vasto pano para mangas. Li há pouco uma frase que me chocou mas, até certo ponto, me ajudou a encontrar um fio condutor para o meu próprio blog. Dizia mais ou menos isto: “Os blogs são diários virtuais de frustrados que não têm coragem de dizer as coisas cara a cara e vão para ali vomitar as suas ideias estúpidas”. Depois de ler a tal frase passei a ter uma preocupação acrescida com este blog que, como repito, nem sei se alguém lê, para além de duas ou três pessoas que sei que sim. É a preocupação de não personalizar posts, de não dirigir canhões a ninguém, de não aproveitar para destilar, num espaço que, de uma forma ou de outra, é um espaço público. Apercebi-me que o melhor que tenho a fazer é mesmo tornar-me autista virtual, depois de me ter tornado autista gramatical. É não cair em erros, e não dar erros — por uma questão de respeito para com quem me lê. Ainda que ninguém me leia. Eu leio-me.
Podia dizer-te muita coisa acerca das correcções dos livros em portugal...
ResponderEliminar...mesmo muita coisa!
Mas digo-te que esse lês-te pode ter uma razão de ser! O word têm uma função de hifenização! É normal usá-la para manter o texto mais alinhado e sem grandes espaços entre palavras. O problema é que, depois de hifenizado o texto, se o selccionares e copiates os hifens aparecem no meio das palavras! Esse lês-te devia estar no fim de uma linha no ficheiro original, e a palavra foi quebrada e muito bem! O problema é, durante a formatação do livro, esse pequeno pormenor não ter sido detectado!
Quanto ao resto, se quiseres, posso contar-te coisas interessantíssimas...
:)
Mas olha que o exemplo do lês-te, é um mero exemplo. O livro está cravejadinho. E não é o único, mas é o "caso mais grave" que já me passou pelas mãos. É de uma grande lata não haver edição e revisão de textos, e de uma grande falta de respeito para com os leitores, ainda por cima ao preço a que estão os livros. Nota que o meu post tem 6 anos.
EliminarConta lá, eu gosto sempre de aprender :)
Uma grande parte do que escrevo no blogue (uma grande, grande parte), escrevo por não ter coragem de falar, outras porque não as quero vocalizar, outra ainda porque gosto do secretismo e praticamente ninguém lê aquilo (não estou, de todo, a pedir leitores). Escrevo porque sou diarista, memorialista, adoro o registo diário, leio-me e releio-me, apoio-me (parvamente) no passado e esse tipo de coisas. Identifico-me pra caraças com a ideia que apresentas neste post. Normalmente, repito: normalmente, não me importo nada com isso.
ResponderEliminarP.S.
Boas férias
Este post foi pescado de outro blog que eu tive há uns anos, bastante menos lido do que este que tenho agora. Na altura, já não tinha o hábito de escrever o que não tinha coragem para dizer, hoje ainda menos o faço. Sou demasiado frontal para que isso me possa acontecer. E faz-me confusão a indirecta. Mas sim, continuo a ser a minha primeira leitora, a quem ralho quando a coisa corre mal.
EliminarTambém andei quase dois anos a ser praticamente a única pessoa que me lia, e isso nunca me demoveu de tentar escrever o melhor possível.
Os leitores de blogs não se "chamam" de maneira nenhuma, aparecem, gostam, não gostam, desaparecem :)
Boas férias também :)
Querida Linda Blue,
ResponderEliminarEu também a leio. Com gosto.
Um beijo,
Outro Ente.
Querido Outro Ente,
EliminarAcredite que o que me diz é absolutamente recíproco. Mas penso que sabe.
Obrigada.
Um beijo para si também,
Linda Blue.
É um prazer ler-te.
ResponderEliminarQuanto ao vomitado, olha, vomitemos até que os dedos de teclar nos doam! ;)
Beijo, Lindinha. :)
Eu também adoro ler-te, querida.
EliminarPelo menos, um esforço por não publicar textos muito fracos, eu faço :)
Obrigada.
Beijos, Marioska :)