15/08/2015

I'm back!

Fiz boa viagem, sim senhores, graças ao Senhor.
O camião vinha cheio até cá acima, parecíamos campistas dos anos 70. Só faltava virmos a cantar Oliveiras, oliveiras, ou a gritar O pai vai à frente, que era o que a outra e eu fazíamos aos nossos pais, até eles perderem a cabeça, isto é, até o meu pai dizer tranquilamente Ó meninas, calem-se, e a minha mãe agarrar no espanador de penas e nos dar com ele nas pernas, e nós a rir, a rir (os espanadores são feitos de penas de galinha, fazem uma coceguinha muito boa, não sei como é que os móveis aguentam quietos e calados). É um mistério perceber como é que sobrevivemos todos àquelas viagens épicas, em que nós saltávamos até batermos com as cabeças no tejadilho (era esse o objectivo) — ainda se desconhecia completamente a noção de cinto de segurança, como, aliás, qualquer acepção da palavra segurança —, ou então eu vomitava alarvemente, não digo em todas, mas em várias das curvas da Serra do Caldeirão. 
Eu, por mim, vim de pés no tablier (não sei se diga que não era eu que vinha a conduzir), pois todo o chão da viatura tinha bagagem, e não havia mais onde pô-los. 
A gata, como sempre, portou-se que foi uma maravilha, fora da gateira, nem um miau nem um miui. 
Quer dizer, podia ter corrido melhor, em sentido estricto: se o carro pudesse correr mais velozmente, caso a estrada estivesse menos prenhe de viaturas. E caso não existissem aqueles Antónios todos, que se encostam à faixa da esquerda, comunistas ferrenhos, canhotos empedernidos, e já de lá não saem, quem sabe se por considerarem que aquele é o lado da estrada que pertence aos vencedores, aos potentes e aos valentes. Ali passa o Ferrari, não é? Passa também o charolês de 1977, ora agora. O homem e o carro, enquanto extensão da sua masculinidade, qual comando da box, um tema a desenvolver qualquer dia, mal me apeteça. 
Também tenho a agradecer aos senhores das notícias, que divulgaram, de manhã, que a A 2 estava com entupimentos só comparáveis àqueles que ocorrem quando os autoclismos avariam. O que pensa o peixe, pensa o pescador, e o bando debandou, sumiu no horizonte pelos ICs desta vida, em cardume, de modos que ficou a A só para mim e, ok, mais uns quantos milhares, mas, mesmo assim, não fomos suficientes para entupi-la daquela maneira que os senhores praguejavam. Parece que só estão contentes quando a coisa fede.
A salientar a atitude de dois automobilistas que, num troço da A 2 que tem apenas duas faixas (a pouco mais de cem quilómetros de Lisboa), e por um ter dado um toque na traseira do outro, 1 na faixa da esquerda, 2 pararam os carros, à espera da GNR, 3 sem qualquer tipo de sinalização de segurança, 4 tendo saído os dois condutores dos seus veículos, 5 sem coletes reflectores, e também provocado uma fila compacta de dois quilómetros, que me afectou a mim, pessoalmente. Tenho esperanças que a GNR lhes tenha, impiedosamente, aplicado todas as multas a que ambos tinham direito. 

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