Telefono com alguma frequência aos irmãos do meu pai.
Ligo à minha tia, sei-lhe dos netos, ouço-lhe da bisneta, rimo-nos muito porque a nossa Nana já é avó, ainda ontem era tão miúda, abanava o rabo em saias curtas e meias até ao joelho para os nossos filmes — mudos e de fita queimada —, que eram os filmes da nossa vida, em Super-8. A nossa Teresa nunca será avó, levou-lhe a vida o único filho e, com ele, toda uma família que podia ter sido e já não será. Falamos sempre do Luís, se fosse vivo, estaria um homem, seria pai, com toda a certeza. Depois, a minha tia repete-me ao ouvido a melodia que eu tanto preciso de ouvir, de todas as vezes que lhe telefono: Ai, rapariga, eu estou-te a ouvir e parece que ouço o teu pai.
Ligo ao meu tio, que me grita gritos de alegria do lado de lá, nunca me lembro de me ter atendido sem ser a gritar assim, Alô, rapariga!, mal me dá conta dos últimos episódios da vida, dos filhos, dos netos, uma viuvez, um divórcio, alguns nascimentos, nenhum baptizado, que disso não reza a história dele, e, entre mais gritos e gargalhadas, à despedida, a música para os meus ouvidos, Ai, rapariga, eu estou-te a ouvir e parece que ouço o teu pai.
Eu também lhes ligo para ouvir o meu pai.
Eu olho para a minha filha e vejo o pai. Olho para o espelho e vejo o meu. Talvez seja por isso que dizem que as meninas são do pai. Serás sempre "o e do" teu.
ResponderEliminarBeijinho
Que comentário tão bonito, Be.
EliminarEu também vejo o pai delas em duas das minhas. E continuo a procurar o meu no meu reflexo, no meu rapaz, na minha irmã, nos meus sobrinhos. Se juntar um bocadinho de cada um, chego tão perto.
Beijinho, querida.
Eu sou a cara chapada do meu pai...e tenho tanto orgulho nisso...as minhas Minis saem cada uma a cada um de nós...em tudo, fisicamente e maneira de ser.
ResponderEliminarDe uma maneira ou de outra, nós somos sempre uma repetição. E repetimo-nos, quando procriamos, também.
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