É a segunda semana consecutiva que, mesmo chegando antes da hora, já não consigo tirar senha para a aula de Pilates. Em ambas as vezes, André teve que fazer uma enorme ginástica, não literal nem mental, mas estratégica e logística (não deixa de ser ginástica), para que as cinco ou seis pessoas sem senha ainda coubessem dentro da sala. Hoje já só conseguiu meter mais quatro pessoas, e eu era a quarta dos seis sem senha.
Entrei, portanto, por uma unha negra. Porém, negras haviam de estar as unhas do meu companheiro de classe: foi sentar-me no colchão e teletransportar-me para uma fábrica de queijo flamengo.
O ar condicionado virado para o quente — a sério que há quem tenha frio num ginásio? —, a porta fechada, e eu tinha que ir sentar-me, e depois deitar-me, precisamente ao pé — aí, sim, literalmente, pois a minha cabeça ficou a confinar com os pés dele — de um senhor que, para além de não ter lavado os pés nos últimos três anos, também não lavou as meias desde que as comprou, naquele saldo, há cinco anos.
Puseram-se-me, então, várias alternativas mentais:
1. Levantar-me e ir ocupar um dos dois colchões disponíveis no palco — não que me fizesse grande diferença ir para lá exibir-me, pois parece que isso já é um fado meu, simplesmente o outro colchão estava a ser ocupado por um senhor muito grisalho, e não me apeteceu criar-lhe constrangimentos por qualquer situação que pudesse assemelhar-se a isto:
2. Levantar-me e ir-me embora, com a desculpa de que me doía o nariz, do ar tão pesado;
3. Deixar-me ficar deitada e desatar a gemer que não aguentava mais o mau cheiro da minha cabeça;
4. Pedir uma mola de cabelo (piranha) emprestada e colocá-la no nariz;
5. Perguntar, para a geral, "Quem se peidou dos pés? Ponha o dedo do pé no ar!";
6. Dizer claramente ao senhor que tirasse as meias. E os pés. E os lançasse para longe.
Em vez de qualquer dessas hipóteses, aguentei firme e hirta como uma barra de ferro. E não chorei, como recomendava o arquitecto. Mas foi uma desconcentração, um cheese-cheese-cheese, que até acho que passei a aula toda a sorrir, convencida de que era a ordem para tirar o retrato.
Infelizmente, André esperou pelos três últimos minutos da aula, para nos dar um raspanete subordinado ao tema da higiene, que foi muito bem feito. Disse "odores", disse "pés", disse tudo, mas já disse tarde. Com isto quero dizer que não haverá uma próxima. Tenho ali guardada a mola de nariz da natação, que serve bem para nadar em seco, também.
(Ontem Lisboa foi invadida por trezentos camiões de suinicultores.)
A sério? A sério que houve que fossem a cheirar a patchouli das patas para uma sala de ioga que toda a gente sabe que não se usa ténis???
ResponderEliminarCa porcalhões. Porcos são os porcos e não cheiram a chulé.
A sério. Mas também comeu a descasca e espero que tenha enfiado a carapuça. Ou, no mínimo, as meias pela goela abaixo.
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