Cheguei à nutricionista como sempre chego a todo o lado: de uma pontualidade que faria corar qualquer britânico antes da exposição solar. Comunicaram-me que ela tinha ido almoçar, e eu esperei dez minutos, durante os quais preparei o discurso para lhe anunciar que não voltava lá, por duas ordens de razões: primeira, porque não tenho força de vontade nenhuma, e já não tenho por onde mais cortar no que como. Só se passar a comer milho cru, cocorocó. Segunda, porque pensei melhor e acho que estou contente comigo mesma, e, se melhorar, estraga, como diz aquele povo lusófono da América.
Ela apareceu e eu achei-a mais gorda. No intervalo entre os dois beijinhos que trocámos, senti-lhe o bafo a cozido à portuguesa, contra o meu bifinho de frango com grão e alface. Sosseguei o meu espírito atormentado com a possibilidade de o almoço dela ter sido, por uma questão de coerência, uma pratada de penca cozida, com uma cenourinha e um nabo, e nada de farinheiras nem outras delícias que tais.
Em compensação, ela achou-me mais magra. Encontrou-me menos um centímetro e meio na coxa (porque apertou melhor a fita métrica, estava a ver que me fazia explodir uma carótida das pernas), menos quinhentos gramas no peso (aparei as pontas do cabelo e cortei as unhas recentemente. E estive duas horas sem beber água antes de lá ir. Aprendam comigo, que eu não duro sempre), menos massa gorda e mais massa magra. Fez a caridade de não me medir os braços, pelo que continuo com a íntima convicção de que tenho os braços mais gordos do universo. Mais do que os dela e tudo.
Depois ficámos sentadas, uma diante da outra, eu a descrever o que como (e, essencialmente, o que não como) ao longo de um dia inteiro, ela com uma extrema e manifesta dificuldade em encontrar alternativas e supressões ao meu plano.
Levantei-me da cadeira, perdida a coragem para a despedir, ganha a certeza de que nunca na minha vida vou dar conselhos de educação alimentar (vulgo dieta, vulgo fome) a ninguém, porque isto dos gramas nas ancas é um Deus-tira-Deus-dá, que nunca se sabe se nos tira a nós para dar a outra, ou ao contrário. E vá de metro, ananás!
mulheres corajosas tem braços fartos, Linda. como carregarias tu o mundo, se não os tivesses?!
ResponderEliminar:) boa páscoa (sem pecado, ámen)
Que explicação tão boa, Flor. Vou guardar para mim :)
EliminarBoa Páscoa, com muitas amêndoas — em sentido lato (hallelujah)