04/03/2016

Gata em telhado de zinco quente — aquele destrava-línguas

Parecendo que não, tenho-me esquecido de dizer que fui ver Gata em telhado de zinco quente, aquela peça que me faltava no puzzle, para poder dizer a mim mesma e ao mundo que já vi quase tudo de Tenesse, mas aquela também cujo título me põe a pensar duas vezes antes de o dizer, já que me sai, invariavelmente, gatemtelhadedzinquen, não sei se por excesso de tês ou por ditongos nasais a mais — a verdade é que penso, treino, ganho coragem, e só depois digo, como acontecia quando nasceu a Vodafone, que era um desassossego cada vez que ia para dizer aquilo sem me enganar.

E é esse o maior mérito que reconheço à Catarina Wallenstein, que repete a frase Eu sou uma gata em telhado de zinco quente algumas dez vezes, o que, conforme já disse, eu não seria capaz de dizer uma só, quanto mais dez. Aquilo havia de ser uma metáfora, para querer significar que a jovem estava a entrar em polme, aquela fritura lenta, por suspeitar que o marido não estava para ali virado por estar antes virado para o amigo que, afinal, morreu, mas com o qual ela própria também deu uma cambalhota, porque, quem sabe não será daquelas que não podem ver nada e gostam de tirar tudo a limpo, que é como quem diz. 

Catarina é bonita e interpreta um papel que impõe gesto e modo sensual, no que se bate bastante bem, embora me tenha baralhado um pouco a cena das meias altas, tira-meia-põe-meia, que fiquei mesmo convencida que ela tirou as meias e voltou a pôr as mesmas, ou pôs a esquerda na direita e vice-versa, e eu bem sou capaz de ir ver a peça outra vez só para tirar as teimas todas, que isto não fica assim. De todo o modo, falta-lhe um tiquinho assim para chegar ao asteróide onde se encontra a Alexandra Lencastre, o mesmíssimo onde já se encontrava na idade dela. A vida é assim, e a minha opinião é esta. Chiu.

Uma pessoa sai do São Luiz e há um intelectual do cachimbo que lhe vem no encalce com esta conversa cheia de cocó: Ela não conseguia aceitar que existisse aquela amizade platónica com o Skipper. Intelectual do cachimbo ignora que a homossexualidade existe; ignora que Platão não falou em amizade, mas sim em amor ideal, aquele que é perfeito, não existe no mundo real, apenas no das ideias — o que é algo totalmente diferente de um amor sentimental e carnal entre duas pessoas, tal como o do protagonista com o seu amante; ignorou ainda o sumo da peça — e sim, o marido da que diz que é gata e o amigo eram, na verdade, amantes. 

Tanta ignorância ligou-me no cérebro esta melodia, que há anos me baila de cada vez que me sai à rifa uma pessoa assim, qual JAS.

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