31/03/2016

Tonifika-te




É mais na Segunda Circular que me acontece: vou ali a passar e aquilo está tão bem colocado que nem à visão periférica escapa. Refiro-me aos outdoors do Tonik, aquele ginásio que diz que já tem 13 anos, mas do qual eu só comecei a ouvir falar anteontem, e vocês hoje e agora. 
Daqui fala-vos uma pessoa que, conforme sabeis — e, se não, ficais a saber agora (isto hoje é só surpresas, pareço um ovo Kinder*) — pratica exercício físico, e não só o mental, ao qual assistis diariamente, com uma profusão que até a mim assusta.

Não sei porquê. Ainda hoje, não sei por que é que ando no ginásio. Aquilo cansa-me dos músculos e da mente; obriga-me a uma organização psíquica, física e estratégica que não foi feita para mim. Eu sou do sofá, e o sofá tem-me. Eu sou da pipoca, do hambúrguer e do Ginger ale, e eles são meus; gasto lá dinheiro; comprometo o meu descanso dos sábados e dos domingos; fico toda suada e a sentir-me um sebo; aturo o cheiro a suor e a chulé de uma série de desconhecidos (não perdendo a oportunidade para orar no sentido de que não passem a conhecidos — aquilo a que a linguagem facebookiana chama "amigos", hahahahehehehihihihohohohuhuhu —, e de oferecer em sacrifício pela saúde dos meus); partilho o balneário com uma data de mulheres e miúdas, algumas tontas como baratas; topo e interpreto, com o semblante mais inexpressivo que consigo forjar, mas com a tensão arterial a níveis exponenciais e a têmpora prestes a rebentar, os olhares mais diversificados que me são dirigidos, entre sou-muita-bom-não-sou-?, tásmaquerer, deves-ter-a-mania, fraquinha, ó-minha-senhora-já-deslagava-essa-máquina-que-é-para-jovens, que-gorda, que-magra. Devia odiar lá ir. E odeio, mas vou, porque adoro sofrer e posso ter reencarnado no Marquis (allo, ça va?).

Ao contrário do que pensa a maioria das pessoas (eu hoje estou este poço e vou continuar no registo via de ensino), não existem corpos perfeitos. E isto também é válido para os ginásios. Ninguém que frequente um ginásio (e faça exercício, que isso de lá ir ver as vistas e conversar com os PTs também não tonifica, a não ser os globos oculares e a língua), passa de gorducho ou gordinho a Iron Man, e, em princípio, a inversa também é verdadeira. Mas não é isso que diz a campanha do Tonik. Diz que sim. Mais: promove a ideia de que magreza é beleza, e que os gordos têm que ser todos infelizes ou carrancudos, já para não dizer mal sucedidos. E que só depende deles (ATÉ QUANDO?) mudarem essa imagem e essa forma de estar, para a de magros e fixes.

Por acaso, a mim, que tenho a PDM, instilam-me, devagarinho, a ideia inversa.




* também não me importava de ser patrocinada pelos ovos Kinder, vejam lá isso. 

6 comentários:

  1. Anónimo31/3/16

    Um tipo de publicidade que não entendo. Porque é enganadora. Quem tiver espelhos em casa e conseguir ultrapassar as 'gorduras selectivas', está na maior e não há 'Tonik' que singre.

    Gostavas de ser patrocinada pelos ovos Kinder? Põe-te na fila :)

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    1. Pois.

      Este blog já merecia uns chocolates com brinquedos, não?

      :)

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  2. Eu sou mesmo mais da piscina e da natação...aturar cheiro que não seja o do cloro não é comigo.

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    1. O cloro também me acaba com a pele e os elásticos dos fatos de banho... e depois, há a questão da falta de limpeza das pessoas que entram na piscina connosco.

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  3. Já tinha reparado nesses cartazes e irritam-me um bocadinho.Eu só vou ao ginásio porque efectivamente faz-me bem à coluna mas não gosto particularmente e, se não me contrario todos os pretextos são bons para não ir...espirrei, tenho uma borbulha, está a chover, etc, tudo serve.
    No balneário esforço para olhar para o vazio e não reparar nas sras que adoram andar nuas para trás e para a frente e demoram eternidades a porem creme e perfume e vestirem-se.
    Mas o meu ginásio até é bastante civilizado comparado com muitos outros.

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    1. Acho que o problema do meu é, precisamente, ser um low cost: existem choques culturais, que se estendem até ao balneário, mas são transversais a todos os espaços. O desrespeito pelo perímetro mínimo dos outros é coisa para me dar ganas de me transformar na mula da cooperativa. A sério.

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