Eu sei que uma pessoa educada jamais começa uma lista de personas, da qual faz parte, com "eu". Faz à inglesa: the Queen and I. Deveria ter escrito antes "O ar e eu". Mas não pareceria a mesma coisa, e à mulher de César não basta ser séria. Também não deveria começar uma frase, quanto mais um texto, com "eu". Mas hoje deu-me para transgredir, porque estou cheia de ar.
Ainda antes de almoço, fui ao feed (sinto-me tão hipster a escrever estas coisas) e verifiquei, com pasmo e surpresa e também alguma estupefacção, que Filipa, essa monstra olímpica de generosidade e desapego pelos bens, havia (finalmente, diga-se. Há semanas que lho havia amandado, e para lá estava a ganhar mofo. Amigue, quero tudo da Lancôme*, e o rímel [hah] pode ser Guerlain*, cils d'enfer) publicado a minha já apelidada de desconstruída e desencarcerada obra poética, indubitavelmente a primeira da História da poesia contemporânea que não rima, não arrima, nem prima. Foi assim que comecei a encher-me de ar — ar de artista, ar de blogger, ar de deusa da nova literatura, surfista ínvia e impérvia (ó pá, sei lá o que é que isto quer dizer, comprei-as por boas e foram caras) de uma nouvelle vague cultural, qual canhão da Nazaré elevado às construções frásicas.
Almocei, então, no melhor vegetariano* do meu pequeno mundo e acho que exagerei nas quantidades. Passa das cinco da tarde e ainda me trabalham os seitans todos dentro da tripa (noutros tempos, diria que de Porca), num baile armado para me deixar ficar mal dentro do meu vestido mais bonito. Ninguém merece entrar à justa num vestido tão bonito — eu repito, o vestido é extremamente bonito (obrigada, Pepe Jeans*) — e sair de um restaurante, ou de outro sítio qualquer, a precisar de se meter na primeira costureira/forma de sapateiro/cinta integral/torno de bancada, sob pena de o vestido gritar ainda mais alto Devias ter comprado dois números acima!.
No entanto, considerando que a maior parte do volume que acrescentei à silhueta se devia ao ar ingerido com os sólidos — note-se que, feita baby, mal acabo qualquer refeição, arroto. Desculpem, não há uma maneira simpática de dizer isto: arroto horrores. Não com estrépito, não às escancaras, mas garantidamente em quantidades capazes de encher um balão de ar quente, daqueles que levantam voo e tudo —, fui-me dali para a nutricionista. Quando me sentei para desabafar tudo o que me ia na alma, e, sobretudo, no corpo, já ia na quarta vez que eructava tanto vegetal, pelo que pensei, pela quarta vez também, que isto de ser uma senhora é um alívio quase intestinal: o ar sai-me sempre por cima, graças a Santo Erasmo (esse, mesmo, das viagens académicas com vista à obtenção de juízo no estrangeiro).
Quanto à consulta, nada a acrescentar: não aumentei nada, e só diminuí onde não interessa (na anca, que não me chateia nem um bocadinho, pois nem as mãos lá lanço. Já disse que sou uma senhora?). Perguntou-me apenas quanto comi, eu fiz uma descrição detalhada entre resfolegadoiros (dois pratos cheios e um bule de chá), e ela descontou-me um quilo.
Eu comi seiscentos gramas de relva e bebi quatrocentos mililitros de chá.
Fora, é claro, a quantidade de bars.
* ninguém me paga para isto.
venho só dizer que "aquilo" publicado lá no outro local, está "bárbaro" como dizem os brasileiros. "amei, minha nega!"
ResponderEliminarE por hoje , é tudo!
beijinhos,
Mia
Gradjicida, viu, gata?
EliminarGenerosidade tua, Mia :)
Beijinhos