20/03/2016

Ah, a doce liberdade de escrever ao domingo

É o que me apetecer. Melhor ainda, só ao sábado: poucas visitas, a pessoa estende-se ao comprido, esbornega-se em disparates, espraia-se à parva. Parece Carnaval, ninguém leva a mal.

Agora tenho uma gata com défice de atenção. Não que eu não lhe dê atenção suficiente, ou que haja alguma falha, em termos de horas, da nossa parte. A falha é dela. Tectónica.
Tem 12 semanas de vida, e ainda não conseguiu perceber que:
1. A própria cauda lhe pertence — e roda, e roda, e deita-se, e dobra-se, num afã para a apanhar, que dá gosto ver. Quando a apanha, morde-a. E continua sem perceber que aquele enguiço lhe pertence;
2. A própria sombra lhe pertence — e ataca-a, e atira-se, e salta no ar, e arqueia-se, e eriça-se, e assanha-se. A sombra mexe-se tanto como ela, que não consegue nem caçá-la, nem ser mais rápida do que ela, como o Lucky Luke. E são horas nisto, quando cai a noite na cidade, e a luz artificial banha cá o lar;
3. A própria imagem no espelho lhe pertence — e observa, mira, levanta a pata, toca com a pata no espelho, vai à volta, sai do quarto, para tentar perceber onde raios se esconde o outro gato, depois volta e irrita-se logo, porque, que diabo, está ali um gato que não sabe brincar, e, por isso, merece ser atacado. E isso corre-lhe sempre mal;
4. A Mia não é opção, lá do alto dos seus 7 anos de idade, e com um volume três vezes superior ao dela, para brincar às garraiadas académicas;
5. Eu não sou um poste de arranhação — e fico histérica, e bufo e grito e perco a noção, sobretudo quando, como hoje, com uns collants acabadinhos de estrear de novo, ela lhes enfiou as garras e ficaram com uma bonita janela aberta, de par em par, com vista sobre a cidade;
6. Os meus livros da mesa-de-cabeceira não são pranchas de surf/skimming/snowboard — vem de lá disparada, salta em cima de uma ponta do livro, derrapa até à outra ponta, fá-lo entrar em desequilíbrio, e vai tudo — o livro, toda a pilha de livros que está por baixo e ela — parar ao chão. Tem uma predilecção especial por este, que é grande.


A bicha deve ser poetisa. Ou escritora universal. Heterónima, ou assim.

8 comentários:

  1. A bicha é eléctrica, isso sim!

    Beijocas e muiiiiitaaaaaaa paciência, Lindinha azul :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Bem, então em véspera de chuva, nem com um camaroeiro sou capaz de a apanhar. Aquilo voa!

      Obrigada, Maria (hoje Silenciosa). Beijocas :)

      Eliminar
  2. Anónimo20/3/16

    também tenho guardadas umas considerações sobre felídeos. pedi um emprestado. amanhã falarei sobre o assunto. só estou a dizer isto para te distraíres um pouco da maluquice que por aí vai! :))
    beijinho,
    Mia

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Calhou-me uma doida, Mia. Tu não te metas nisto. Qualquer dia escrevo do hospício :)
      Beijinhos de boa noite

      Eliminar
    2. Anónimo21/3/16

      Não. Só o pedi emprestado para me safra de falta de assunto, logo de manhã, à segunda -feira. Tranquilo, como se diz agora.
      beijinhos e boa semana.

      Eliminar
    3. Boa semana, Mia.
      Beijinhos :)

      Eliminar
  3. Pode ser que um dia a poesia a acalme :)

    Beijinhos, querida Blue, e grandes doses de paciência :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ando tentada a ler-lha declamada, como a Natália Correia fazia — aos brados :)

      Beijinhos, minha querida. Obrigada :)

      Eliminar