08/02/2018

uma varanda, duas janelas

Umas vezes porque calha, outras porque tem que ser, em todas elas porque o coração assim mo dita, passo pela casa dos meus pais, nos percursos vários que a vida me destina. É uma passagem breve, porque apressada, porque de carro, porque é assim que tem que ser. Morávamos numa avenida larga, com muito trânsito, que hoje talvez tenha dobrado, mas já não estamos ali. A varanda e as duas janelas, sempre presentes, passam-me pelos olhos, que as percorrem. Elas ali ficam, intactas, porém já não à nossa espera. Certamente, sabem que não voltaremos. Naqueles dois segundos que desvio o olhar para lá, sinto-as reconhecerem-me, e acenarem-me adeus, um adeus de olá, tão minhas que me são. Ontem à noite, a luz do quarto dos meus pais estava acesa. 
Não sei por que não subi, não meti a chave à porta e não me aninhei de saudades, ontem.
Também não sei se deixarei um dia saudades do som dos meus beijos.