O dia amanheceu naquela paz única que antecede as ondas mais altas, claro e transparente, mas eu vi-o, ou antevi-o, rubro. Procurando a fotossíntese, vesti-me de encarnado. Apercebi-me hoje de que estamos em Junho, e Junho é-me amargo até ao último dia. É bom, no entanto, que tenha passado uma semana, sem que me tenha doído como antes. Já vão anos a mais sobre os meus Junhos, e pesam-me os Junhos todos que sobre mim carrego. Pode ser que, por razões de desesperada autodefesa, este ano lhe tenha anulado uma semana. Quem sabe se, nos próximos milénios, se lhe eclipsam as quatro.
Calhou-me na volta ir à Avenida Guerra Junqueiro, e ditava-me a lógica que subisse a Alameda, depois seguisse em frente pelo Técnico e apanhasse as Avenidas Novas, atravessando a República, continuasse pela 5 de Outubro, Álvaro Pais, Eixo Norte-Sul. Era essa a lógica cerebral, mas estamos em Junho e foi a volta uterina que me deixei dar: Avenida de Roma, onde fui concebida, Avenida dos Estados Unidos, onde foi concebida a minha irmã, Avenida das Forças Armadas, onde foi a nossa casa. Ainda lá está, apesar de ser Junho, a janela daquele que foi o nosso quarto.
que lindo...
ResponderEliminar:) obrigada, Alice
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