Chegou levemente, levemente atrasado, sem vontade de ficar, e anunciou que se vai embora: no final de Julho, André Pilateiro deixa as aulas de sábado, mantendo só as dos dias de semana. Razões familiares o prendem, libertando-o dali: ainda hoje deixei três mulheres — talvez tenha usado um eufemismo, tendo em conta que uma delas tem cinco anos e a outra dois — a soprar bolhinhas de sabão, numa imensa alegria, e eu tive que me vir embora. Disse isto, abrindo imensamente os imensos olhos de um azul imenso, e a sala encheu-se de bolhinhas de sabão, que acho que mais ninguém viu.
Não lamento, nem tenho pena. Desde o final do ano passado, aquando da morte da minha gata, que me habituei à ideia de que as perdas fazem parte dos ganhos e, por conseguinte, da vida. Por outro lado, depois de descobrir a modalidade das aulas avulsas, sou livre de fazer Pilates com ele sempre que me apeteça e tenha horário na minha própria vida. Além disso, e isto é um chavão, a vida é feita de escolhas e opções. Ele fez a dele, para a frente é que é o caminho.
Quando tenho ataques de deitar fora bagulhos acumulados, e porque tenho uma limitadora dificuldade em cometer despedidas (cometer, sim, como crimes), sigo um mantra que inventei para mim mesma, como forma de libertação, em sentido estricto: se as pessoas acabam, por que é que as coisas não podem acabar também?
À saída, o risco traçado por um avião no azul do céu de Lisboa, a muitos pés, muito fora de pé, dizia-me que as despedidas fazem parte do percurso — quantas, só naquele pontinho do extremo do risco, terão acontecido antes da descolagem? —, e que o meu mantra também pode ser lido ao contrário: se as coisas acabam, por que é que as pessoas não podem acabar também?
Acabar algo, para mim, é sempre doloroso. Sei que faz parte da vida, e, no entanto, dói. Diga-me a Linda Blue e a sua douta ciência da vida o porquê.
ResponderEliminarP.S. - Muitas vírgulas, eu sei. Demasiado Saramago. :)
Idem para mim, Fernando. Tenho uma imensa incapacidade para dizer adeus. E ando desde Dezembro do ano passado a dizer que não aguento nem mais uma perda. Nem mais uma.
EliminarPS - Ao contrário, estão todas no lugar e nenhuma a mais. :)
Teremos sido separados à nascença? Um progenitor comum? Para esta comunhão de sentimentos convinha arranjar algo melodramático. :)
ResponderEliminarPelos meus pais, ponho as mãos no fogo. Já pelas enfermeiras que me assistiram no parto, nem tanto. Lembro-me vagamente que tinham todas ar de doidas. :)
EliminarLinda,já percebi que vais comprar uma prendinha ao Pilateiro .
ResponderEliminar:)))
Atchas, boy? Mais o que fazer aos meus cêntimos!
Eliminar:)