15/06/2016

Ando a ficar com baby blues

Os exemplares da colecção Baby Blues, que comprei na Feira do Livro, são, actualmente, a minha leitura nocturna. E só não são para aquela outra ocasião, porque eu sou uma senhora e não faço essas coisas. 
Mas é que ainda me faltam ler cinco dos seis, e já ando a ficar meio deprimida com a personagem Wanda, a mãe. Houve tempos em que me identificava com ela, mais nas situações por que passava do que na postura, com a nuance de que ela está em casa com três e eu tinha mais um, todos com idades bem mais próximas do que os dela. (Os 8 anos da Zoe são os primeiros meses da Wren.) 
Faz-me confusão que Jerry Scott, responsável pelos desenhos, jamais imprima um sorriso na Wanda. As poucochíssimas vezes que foi desenhada a rir, regra geral, foi porque teve um ataque de nervos qualquer. 
O boneco cumpre as tarefas domésticas como um autómato, num registo muito próximo da escravização: trata da roupa, pega nos filhos, conduz o carro, vai às compras, deita-se e levanta-se, arranja-se para ir a um jantar, sempre e sem excepção, com um semblante entre o triste, o zangado, o aborrecido e o esgotado.
A vida de casa, com crianças pequenas, é extremamente extenuante, não tem horas de pausa, a não ser por alguns minutos, não obedece a horários de fim-de-semana, feriados, férias ou simplesmente noites, não respeita dias de fraqueza, exaustão, doença ou mera preguiça. Levar a cabo a educação, que inclui cuidados, atenção, mimo, e muita perseverança, de quatro pessoas nascidas no espaço de seis anos não completos, é uma tarefa hercúlea, pontilhada por muitos momentos de desespero e arrependimento, pela mera sensação de incapacidade física e mental, que nos esmaga com muito mais frequência do que imaginámos antes. Mas é também uma vida vivida de gargalhadas e brincadeiras, de beijos e abraços a triplicar, no caso dela, a quadruplicar no meu, de alegre confusão, mas também de descanso quanto a ensinamentos básicos como o da justiça, consequência da necessária partilha, divisão e distribuição. 
Foi muito cansativo, mas foi também algo que eu repetiria, se recomeçasse hoje, mesmo conhecendo esse cansaço de antemão. E isso não me permite concordar com a forma como está a ser retratada a figura de uma mãe a tempo inteiro, como é a Wanda, para quem os filhos são um grande frete. 
E ninguém me venha cá com merdas que eu devo ter tido a casa cheia de criados e mil braços para me acudirem nas aflições, que eu, depois de correr tudo à dentada, ainda dou uma explicação básica de como esticar um único ordenado e fazer dele um orçamento familiar que nem os senhores do Gov seriam capazes. Já alguém ouviu falar de dinheiro que estica?



4 comentários:

  1. O braço da Wanda quando saía com a Zoe testava os limites da elasticidade, se bem me lembro Nemésiamente...

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  2. Linda Blue,

    Já foste tratar dessa vista, ou continuas a parecer o diabo a sete?
    Isso um dia rebenta e suja-te o vidro do carro todo. Por dentro.
    Ou no palco da aula de dança, durante o bolero com o mestre sala.

    Hoje fui nadar ao Ateneu e a malta perguntou por ti.

    Assim deixas toda a gente preocupada.

    El Shark

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    Respostas
    1. El Shark,

      Fui mais ou menos. Ainda pareço uma diaba, sim.
      Que me rebentem os dois olhos, desde que não o coração.

      Cita-lhes, assim mesmo em inglês, aquele trecho dos Genesis,
      Please, don't ask me how I feel
      I feel fine
      Oh I cry a bit, don't sleep too good
      But I'm fine.

      Ou, no mesmo seguimento, canta-lhes isto: https://www.youtube.com/watch?v=HsC_SARyPzk

      Beijos, e distribui lá um pela malta toda.

      La Bleue

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