23/06/2015

O Olá! e eu

Canso-me de repetir as mesmas balelas. Mas repito, porque isto de se ser velho é melhor ainda do que se ser burro: a pessoa (a malta, como dizem os outros) encrava ali num assunto, e depois é um pim-pim-pim de dar gosto ao dedo, teclas afora. Assim estou eu. Acho, sem certezas, que ainda não cheguei a burra, embora ache também que daria uma burrinha mesmo ólraite, hi-hón.

Pá, não me digam olá, assim à bucha, sem me conhecerem de lado nenhum, que me põem a cabeça em girândolas e o pescoço em twister, à procura da pessoa — que não eu — que quiseram cumprimentar com o tal olá. Ou ter-me-ão a olhar-vos fixamente, à procura, na minha memória de Dory, de onde genitais vos conheço. Mas é que vasculho tudo até à escola primária, e não já até ao jardim de infância, porque, desse, lembro-me quase só de ter entalado a mão na porta da sala de actividades (não havia cá alvarás, nem mariqueiras dessas, e a p. da maçaneta estava colada à frincha, o que me valeu uma unha fora, que ainda hoje me dói-dói) e também de um gafanhoto ter pousado na saia de uma miúda, e de eu ter ficado a olhar para aquilo, fascinada (o bicho, a saia era azul escura, de pregas), até ela ter tido um ataque de guinchos e me ter estragado a paisagem, a parva, que ainda hoje não lhe perdoei (espero que se tenha ido tratar dos nervos). 

Imaginem a seguinte circunstância: vou a entrar no shopping mais eu, que é o Atrium Saldanha: iluminado, pequeno e grande, espaçoso, clean, chique e giro. Eu sou assim, iluminada e tudo. À entrada, junto a um daqueles mini-stands que são uma espécie de praga que o Barclays inventou, está uma senhora, que me estende a mão, enquanto diz

Olá, minha senhora.

Olá, minha senhora, com o pormenor da manita estendida, pode ter sido a coisa mais tola que uma desconhecida me disse em toda a vida. Só estou aqui a registar, porque imagino que nunca mais ouvirei nada tão desconexo, impróprio, descabido, descontextualizado e semanticamente absurdo.

12 comentários:

  1. Bastas vezes cumprimento com um olá.
    Se não serve, azar!

    Um "olá, minha linda!" não ficava bem, é?

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    1. Fá-lo as bastas vezes que te aprouver.
      Mas já sabes que, comigo, é a confusão mental. Diz-me "Olá, minha linda!" e terás a minha simpatia para todo o sempre.

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    2. Olá, minha linda!

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    3. Uhhhh, tens-me a simpatia forever and ever!

      http://24.media.tumblr.com/tumblr_m7p921YaYE1rb5tn7o1_500.gif

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  2. Essa malta é uma praga. Sim, é o trabalho deles, mas tenho tolerância zero p eles. Pronto, já disse.

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    1. Completamente. E zero postura. Dizia-me "Boa tarde, minha senhora", ou "Olá, 'tá boa?" (se quisesse ver-me mesmo surpreendida-irritada), mas não me estendia a mão. Mas que raio.
      Para a próxima, estendo-lhe a minha mão, e pergunto: "E a senhora, como está, passou bem?", antes de seguir marcha. Juro que faço. Ontem apanhou-me foi de surpresa.

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  3. Tenho uma resposta engatilhada que dou enquanto ando, segura, sempre em frente: Obrigada, já tenho!
    Se continuam a seguir-me e perguntam se estou satisfeita, digo que sim, que estou satisfeitíssima.

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    1. Eu também costumo dizer isso, ou digo um absurdo, assim: "Olhe, vou só ali ter com a minha mãe, já aqui volto. Não saia daí" :D
      Mas esta apanhou-me de caras.

      Beijinhos, Maria :)

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    2. Uma vez disse a um q estava desempregada, parecia q eu tinha ficado com lepra assim do nada, juro-vos.

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    3. Boa, excelente. É já o próximo.
      (Parece que, agora, há mais. Devem querer aproveitar as férias, Lisboa está cheia de turistas, nacionais e estrangeiros)

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  4. Anónimo25/6/15

    Cumprimento muitas vezes com um "Olá" e sinceramente não entendo qu l o grande problema com este rápido cumprimento. É educado, está tudo bem então.
    Nós os Poetugueses somos tão "coisinhas" por vezes, mas enfim...
    Os tipos da Barclays não suporto, esses não, é o trabalho deles mas é um exagero, abusam. Quer pessoalmente ou por telefone.

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    1. Eu também cumprimento quase sempre com um olá.
      Vamos lá a ver: cumprimento pessoas que conheço e, designadamente, dentro da minha faixa etária ou para baixo. Não digo olá a velhinhos (por respeito), nem olá a desconhecidos (por descabimento).
      "Olá, minha senhora", é só um repelente de clientes. Ou dizia "Olá, está boa?", informalmente, para estabelecer uma intimidade (arriscando-se a que o possível cliente não a desejasse), ou "Boa tarde, minha senhora". Não vejo onde está o "coisinho" disto.

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