01/06/2015

Quando tens três momentinhos louros num só dia

É normal e aceitável eu ter momentinhos louros, que são aqueles momentos em que o miolinho congela, ou frita, entra em curto ou longo circuito, tchrshrschh, e depois pronto, volto a sorrir. A cadência com que me surgem é, estatisticamente, de um por mês, ou podem ser mais. Ou então, em épocas altas, altamente atentas às minudências da realidade que me rodeia, estou meses sem ter um.
Três momentinhos desses, no mesmo dia, no espaço de duas horas, nunca me tinha acontecido. Loura-loura-loura por cento e vinte minutos.
Pode ter sido da imperial estupidamente gelada que bebi ao jantar. Loura por loura dá mais.

Sábado à noite não sou tão só. Meto-me a jantar num sítio chamado 100 % Artesanal. Recomendo, os hambúrgueres sabem a vaca, embora a mim me saibam a chocolate, porque são iguaizinhos aos que a minha mãe fazia, e devia ser essa a única — a par com leite creme — coisa que a minha mãe sabia cozinhar.


Passei a refeição a partir a palavra artesanal em duas e a rir-me para dentro, da aleivosia que me dava o resultado da divisão. Acho que ando a escrever demais e a ler em excesso. As palavras dançam-me na cabeça como piolhos inquietinhos num baile, e a sua morfologia atormenta-me como macaquinhos no sótão que a minha casa não tem. 
O maior defeito que a sala do restaurante tem é a acústica. Acho que não conheço sala mais ruidosa do que aquela. Uma pessoa entra e é literalmente metida numa caixa de gritos.
A rapariga que nos serviu à mesa é de uma simpatia absolutamente irrepreensível. No momento em que veio à mesa perguntar se queríamos que baixasse...

eu tive o momentinho louro n.º 1, e ocorreu-me, por décimos de segundo, que ela ia perguntar se queríamos que baixasse o som ambiente, das vozes.
Era ao ar condicionado que ela se referia.

Depois levaram-me para o Colombo, já a loura me revolvia a barriga e o neurónio sobrevivo. 
O rapaz quis comprar um canivete suíço para o melhor amigo, e, por isso, fomos à loja. Andava eu distraída, a ver bonecos, quando fui chamada para dar opinião na escolha entre dois canivetes,  e recebi a revelação de que existem canivetes suíços para todas as bolsas, designadamente as recheadas de não mais o que fazer ao dinheiro. Havia um que custava 80 euros. A sério. No mesmo instante, dizem-me que daquele até uma miúda salta. 

É óbvio que tive o meu momentinho louro n.º 2 da noite, e perguntei: "A sério?". Não que acreditasse que saísse dali uma rapariga, mas por ter feito a imagem mental de um canivete suíço com uma boneca pequenina lá dentro. 
De qualquer maneira, preciso de me ir tratar. Já volto.

A seguir, fui à Nespresso. Logo à entrada, estava exposto um novo sabor de café, daquelas edições limitadas que me deixam nervosa — ou porque sabem malíssimo, ou porque sabem boníssimo, e eu não gosto de coisas limitadas, tem que ser tudo para sempre, ou então sabe-me a pouco e a amargo.


Era assim: é certo que podia ter ficado calada, mas, conforme já explanei suficientemente, a Nespresso transfigura-me num palhaço monstruoso e acéfalo, maleita cuja razão desconheço. 

E tive o 3.º momentinho louro da noite, quando exprimi, amorosamente, mais um dos meus inacreditáveis anagramas: 
- Perú secreto, secretos de perú, secretos de porco, adoro, era capaz de comer ao pequeno-almoço e tudo.

Já agora: adoro também o azul das cápsulas novas.
(O café é amargo, só bom para quem gosta, como a cena do amarelo e do azul.)




6 comentários:

  1. O azul escuríssimo, o tal que dá azar a quem se vai kazaar, é o meu favorito de toda a Nespresso. Este é do mesmo estilo, dizes tu?

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    1. É, mas é limitado, este dá um casamento de pouco tempo...
      Por qualquer motivo, nunca trouxeram este para Portugal.

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  2. Inadmissivel o azul e o amarelo terem tão pouca saída :P

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  3. Anónimo1/6/15

    Momentos muito bons, cheios de nomeadamente, é o que tenho a declarar. :))

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    1. Saem quando a pessoa mais tenta focar-se... :))

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