Eu devo ter tido a sorte de ter sido educada pela pessoa que conheço que melhor falava português, que era a minha mãe. E estou a conjugar no pretérito imperfeito, porque a minha mãe, hoje em dia, praticamente já não fala, embora o que diz, o diga na perfeição, sem erros de construção frásica rigorosamente nenhuns. Mesmo frases muito pequeninas, do tamanho dela, são perfeitinhas, como ela. Além disso, toda a nossa vida juntas, que é para sempre, falámos por metáforas, como fazem todas as mães com os seus filhos, mas nós mais ainda. Por exemplo, Estás a precisar de colo, não significa que eu vá esparramar os meus 59 quilos (na verdade, são 60, mas eu roubo sempre mil gramas ao meu peso, para me colocar na casa dos 50, o que me faz sentir muito mais leve e, na verdade, não deixa de ser mais uma metáfora), com quase 1,70 metros de altura, em cima de uma senhora com 1,53 por 35 quilos, mas sim que preciso de encostar a minha fervilhante testa no magríssimo ombro dela, e fazermos estalar beijos sonoros, daquela nossa maneira, como fizemos outro dia, que fizemos calar todas as conversas e interrompemos todos os silêncios daquela casa, só com a saraivada de beijos que nos trocámos. Ora cá está mais uma metáfora que só pode ter sido a minha mãe que me ensinou, pois os beijos não se dão em saraivada, mas sim em salva, de palmas e de prata, todos bem ritmados e dispostos com cuidado. E isto não é uma metáfora.
Foi também a minha mãe que, há muitos e muitos anos (como começam as histórias de fadas), num reino distante, onde vivíamos felizes, no nosso castelo em forma de apartamento, me ensinou que, contrariamente ao que eu imaginava — armada em erudita, pateta, quando queria dizer que alguma coisa era pateta —, patético não significa pateta, mas sim comovente.
Eu nunca duvido de nada do que a minha mãe me tenha dito. Ainda assim, e porque as outras pessoas não têm que seguir esta minha regra sem excepção, fui confirmar em dois dicionários online, sendo que um deles remete para o Dicionário da Porto Editora. E eu gosto, particularmente, desta explicação:
O termo patético deriva do latim pathetĭcus que, por sua vez, tem origem num vocábulo grego que significa “comovente” ou “que impressiona”. Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, este adjectivo qualifica algo que é capaz de suscitar piedade ou de despertar emoções intensas como a tristeza, a dor ou ainda a melancolia. Por exemplo: “Inconsolável, a mãe da vítima soltou um patético grito de dor”, “O gesto patético de tristeza do condenado não deixou ninguém indiferente”.
Portanto, se alguma vez alguém vos disser Tu és patético, agradeçam — porque se terão cruzado com um pateta que, certamente, ficará apatetado com o vosso agradecimento.
Ser comovente é comovente.
Um beijo para a tua mãe que sabia escrever e falar correctamente, outro para a minha pelo mesmo motivo e finalmente para terminar um outro para mim que fiz com que de uma forma ou outra tivesses o trabalho de pesquisar em dicionários e, assim surgiu este post.
ResponderEliminarTudo porque alguém, eu, escreveu a palavra Patético algures.
Não será novidade para ninguém que certas palavras correspondem a variadíssimos sinónimos e no caso em que o termo foi aplicado, Patético foi um nome simpático para explicar a parte que realmente interessava.
Mas pelos vistos, deste demasiado importância, credo. Muito comovente! ;)
"Então vós não sabeis? Ide aprender, ide."
Deixa-me cá acertar aí um ou dois pormenores: não tive o trabalho de pesquisar o significado da palavra patético porque, como expliquei no post, já o conhecia. Consultei a net, para ilustrar o post, mas, como todas as pessoas, estou à distância de um clique em relação a qualquer tipo de informação, pelo que, chamar trabalho de pesquisa a isso, é um grande exagero.
EliminarAs palavras não correspondem a sinónimos: ou são sinónimas umas das outras, ou não são.
Patético, pela semelhança fonética e pela aliteração, confunde-se com pateta. E, de tanto ser usada nesse sentido, já é até admitida com esse significado (vê um dos links), erradamente, pois a génese da palavra não é essa.
E tu usaste-a nesse outro sentido, de uma forma nada simpática.
Para mim é que vai um beijo, mas de mim para mim, que bem mereço, depois disto.
Comovente sou eu.
E, já agora, repito o que pus na resposta ao teu comentário: sou patética.
Bom dia LP.
ResponderEliminarPor cada post com conteúdo desta natureza, o dicionário é simplesmente descartável. Patético, comovente, o que se queira, é assim que fica o meu sentir após a leitura.
Bom , boa semana.
Beijinho,
Mia
Bom dia, minha querida.
EliminarObrigada. Mas obrigada por cada uma das palavras que vieste aqui pôr.
Uma semana feliz para ti.
Beijinhos.