Vamos falar na terceira pessoa, que é aquela pessoa que vem logo a seguir à segunda e, mesmo que estejamos a contar uma coisa que se passou connosco — nosco, nós, primeira pessoa do plural singular, eu —, parece logo que é de outra que falamos. A terceira pessoa protege-nos de que pensem coisas de nós, o que, às vezes, dói.
Ora, eu agora podia começar isto assim,
Ela andava precisada de abraços.
E todas as pessoas que lessem diziam em uníssono (ou então, pensavam): "Isto é uma amiga dela".
Sabes, eu ando precisada de abraços. Não tenho tido muitos, ultimamente. E caguei se ficas a achar coisas. Cenas de carências e outras à psi da mania. Ou da idade, e merdas. É sempre da idade, mais da porra das hormonas. Nós nunca podemos sentir nada, é a lua que nos carrega, como o diabo que o parta, raios.
Ando assim há tanto tempo que já quase nem sei como é o meu próprio abraço, quanto mais o dos outros e o teu.
Olha, falei na primeira pessoa. Agora vai ficar tudo a achar que isto foi comigo. Também não me interessa.
Mas hoje não foi assim, e foi na rua que recebi o abraço mais abraçado deste meu mundo cada vez mais pequeno, à medida que ele cresce.
Chegámos ao local combinado para o deixar ir de viagem e estavam lá os amigos dele todos. Tudo pardais de calções e pêlos nas pernas, a olharem pelo rabinho do olho para as mães dos outros. Eu fiquei ao pé das outras mães dos outros, quieta e agitada de o ver assim, no meio do bando, calções e pêlos, um sorriso inteiro naquele mundo dele cada vez maior, a achar que tenho o filho mais bonito do meu mundo e não sei se ele a achar que tem a mãe mais bonita do mundo dele, que é, como já disse, maior.
Já tínhamos deixado, há muito, as manifestações públicas de amor, e já não andávamos de mão dada na rua nem nada. Mesmo nos dias de tempestade, ou sobretudo nesses, ele preferia apear-se a alguns metros largos, para não sermos vistos juntos. Beijos à despedida, nem uma sombra, quanto mais um adeus.
Aproximou-se de mim, tanto e tanto, que me assustou, desprevenida, à queima-roupa. Pois, isso mesmo: por pouco não me queimou a roupa, tamanho foi o tamanho do meu sobressalto.
— Tu vais abraçar-me aqui, no meio da rua, à frente dos teus amigos todos?
— Vou.
E foi ali, em pleno passeio, que eu deixei de estar precisada de abraços.
Por hoje, só por hoje.
Amanhã já estou outra vez carente, ou com a lua, ou o raio que o carregue das hormonas, da idade, ou lá o que é que dizem os da mania da psi, mais os psi da mania que os parta.
Não quero nem pensar quando for a minha vez, mas por aqui vou aprendendo como se faz! Tu tem calma que passa num instante e não tarda está de volta para mais abraços.
ResponderEliminarTinha ele 10 e larguei-o numa camionete, às 3 da manhã, para Benidorm (torneio de futebol). Até parti a cabeça nessa noite.
EliminarE partimos a cabeça tantas vezes que acabamos por nos habituar, desde que não nos partam o coração.
Está de volta não tarda, é isso mesmo.
Pois eu comigo é tudo beijado e lambuzado, que eu cá gosto de mimos e aconchegos. E ai de alguma das minhas filhas que deixe de me beijar e enroscar-se em mim! Vai haver choro e ranger de dentes!
ResponderEliminarNão é tão especial como o do teu miúdo, mas guarda um abraço apertadinho meu, Lindita.
Eu também sou dessa raça, mas as idades deles já não permitem isso.
EliminarSabe bem na mesma, Feijoquinha. Obrigada.
Esse foi mesmo um grande, grande abraço.
ResponderEliminarSaboroso.
EliminarValeu créditos para o dia todo.
Não sei o que é ser mãe mas sei o que é ter uma e se pudesse abraçava-a para sempre, para não a deixar fugir. São coisas que vêm com o tempo :)
ResponderEliminarE ser mãe e ser filha, ao mesmo tempo, é uma tarefa árdua para o coração :)
EliminarMas cumpre-se, com mais ou menos brio.
O tempo passa rápido (sei que é mentira o que escrevo, sobretudo para uma mãe), mas o seu pardalito, não tarda, está aí outra vez à porta do ninho. Até lá, deixo aqui um abraço bem apertado, coração com coração, porque, vá-se lá saber bem porquê, já gosto tanto de si :)
ResponderEliminarPois, não tarda, eu é que fico sempre assim :)
EliminarObrigada, Miss Smile, abraço recebido, saboreado e retribuído, com certificado de garantia de que também eu, gosto já tanto de si :)