Ando uma feirante de mão cheia, mas não larga.
Durante aquela minha profícua estadia em Coimbra, calhou-me que nem ginjas à pura sorte uma feira de artesanato.
Eu frequento feiras de artesanato, porque tenho a mania — não há nada mais hipster, nem urbano, nem intelectual bem calibrado que se possa fazer, do que ir a uma feira cheia de tradições regionais, e assim.
Esta era uma feira muito completa, em termos de tudo: artes manuais (ó pá, lá estão vocês), gastronomia, doçaria, e também tinha uma feira do livro, com cerca de 15 stands.
Percorri-a de ponta a ponta, conversei com alguns vendedores, aproveitei a dica da Agridoce para travar um diálogo metafórico dos meus, Quer um corno?, Não, quanto muito, quero dois, que entre vaca e unicórnio, fico-me pela primeira (sou tão Vasco Santana),
estarreci um alfarrabista com os meus conhecimentos sobre Somerset Maugham, que são nenhuns, mas boquiabri-o na mesma, enfim, armei-me aos cucos, ao pingarelho e em boa, de maneira a poder vir para o blog contar tudo como se fosse a maior da minha rua, só não armei a barraca porque disso já lá havia que chegasse.
Felizmente ou não, a pobreza em sentido estrito não acompanha, de mãos dadas, a pobreza espiritual. Só isso explica que eu me cultive, qual flor de jardim, a custo quase zero, financeiramente falando. A feira, percorri-a de norte a sul e mais os outros cardeais e bispos, com apenas dois euros no bolso (mais concretamente, na Tous, que eu sou tesa que nem um carapau, mas tenho a PDM). Um pouco por isso, mas também por aquilo, comprei este livro, talvez para não sair da feira de mãos a abanar, que é o maior indicador de pobreza a que se pode chegar, tipo sinais exteriores de riqueza, mas ao contrário.
Quem já anda há uns aninhos largos na blogobola, lembra-se, com toda a certeza, da Sissi.
A Sissi tinha o blog Cenas de Gaja, que era, há dez anos, dos blogs mais lidos, mais comentados e mais visitados que existiam, na altura. Era também detentora do maior par de tomates que uma mulher, que escreve para um público anónimo, sobre temas sexuais, pode ter. Não havia cá moderação de comentários, nem mimimis, e ela respondia a toda a gente com o mesmo à vontade, quer se tratasse de um comentador identificado, quer fosse um anónimo ordinário, e disso havia lá às paletes e aos pontapés, e pena foi que não os levassem com maior frequência. Quando a identidade da autora foi conhecida, o registo não mudou, o que confirmou aquilo que ficou dito acima acerca de tomates. Um dia chateou-se e despediu-se dos leitores.
Um euro e meio, leram bem.
É claro que não se trata de um livro-livro, não é uma obra literária tout court. Mas, de uma maneira ou de outra, é o resultado do trabalho de alguém, (não) reconhecido desta forma.
Por acaso, isto deu-me que fazer ao neurónio sobrevivo: como é linda, a blogosfera.
Às vezes, lembra uma máquina trituradora, que engole as pessoas, suga-lhes o talento e a alma, e depois cospe um livro, ao preço de uma caixa de pastilhas elásticas. Mais valia ser dado, em oferta de uma caixa de pastilhas.
Cara Linda,
ResponderEliminarNão sei se já disse que o sarcasmo lhe fica tão bem... Nesse caso, repito.
Um beijo,
Outro Ente.
(Claro que me recordo de Sissi.)
Caro Outro Ente,
EliminarAqui é mais um lamento, mas aceito que o leia enquanto sarcasmo. Este tipo de preleções, por maiores cuidados que tenhamos com o texto, acabam sempre por atingir alguém. Mas reitero que não é, de todo, a minha intenção.
Um beijo para si,
Linda Porca.
(Eu sei que sim. Nós somos da velha guarda)
As relíquias que se encontram!!!
ResponderEliminarE sempre provaste o corno? :p :p
Podes não acreditar, mas trata-se de um manual valiosíssimo! Faz o Kamasutra parecer um romance de cordel.
EliminarOlha, não. Queria poupar os meus dois euros, para o caso de encontrar uma relíquia, o que veio a confirmar-se. E aquelas cornadas têm cá um ar de engorda... :P
Um corno? Aquilo parece mais uma banana caramelizada! xD
ResponderEliminarOu um par deles, tipo kit completo :D
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