26/06/2015

Carcavelos

Acabei o trabalho que me ligava à máquina há semanas. Na verdade, este veio colar-se a outro, pelo que perdi a conta dos fins-de-semana sem pausa. 
Pedro, aquele metereológico da batata, dimanou uns raios solares mais intensos a partir de hoje, contrariamente ao que ditava o meu site de referência temporal, o que me leva a crer que o santo adivinhava que eu me ia libertar das amarras laborais algumas horas antes do previsto, ofertando-me, assim, a possibilidade de zarpar a todo o vapor (isto é uma metáfora, que eu sou uma senhora, não faço essas coisas) rumo às marés, espero que não vivas, mas também não mortas, que, para isso, já basto eu — de cansaço. 
Hoje mudo de praia. Por contingências que até se poderiam chamar profissionais, dada a densidade populacional que consigo acumular dentro da mesma viatura, ontem passei por Carcavelos. No regresso, em vez de vir pela A5, percorri a Marginal, tive o cuidado de quase nem olhar para o lado direito, para não cair em tentação e livrar-me do mal, mas, pelo que a visão periférica  — que é o rabo do olho, o centro de todos os pecados capitais e secundários — me deu a perceber, aquilo ficou a apetecer-me. De modos que hoje é lá que aterro, ou areio, os pés, dos pés à cabeça.

Carcavelos é a praia-fenómeno da linha do Estoril. Ao dia de semana, apesar de Junho já ser um mês de férias para muitas pessoas humanas, é tranquila. Tem quase sempre um mar chão, muito bom para as escolas de surf darem aulas e sugarem uma fortuna aos miúdos que, entretanto, não aprendem a surfar ali, mas treinam a remada que se fartam. Ao fim-de-semana, goza da afluência de gentes, que traz o comboio que ali passa, vindo do Cais do Sodré, passando por Algés, onde se embarcam, ou encomboiam os cowboys todos da bela Buraca.

O ano passado, durante uma vaga tsunâmica de calor que houve em Julho, fui-me espraiar para Carcavelos num belo sábado de solinho intenso como o meu olhar. Foi uma experiência, e é disso que o saber é feito. 
Vinha eu expulsa do Guincho, que fica a 17 quilómetros de Carcavelos, onde a temperatura do ar, ou melhor, da ventania, era de 25º. Fui encontrar, ali, um ar abafado de 37º, mas, mal por mal, lá espetei o guarda-sol e ala para a água.
Muito giro, sentir-me uma formiga no meio de um jogo de berlindes. Ou um ácaro, num jogo de bubbles. Até chegar ao mar, fintei, pelo menos, oito ou nove jogos de futebol, e ainda hoje desconheço como é que lá cheguei sem uma bola agarrada aos dentes. 
Carcavelos, ao fim-de-semana é a praia em que se eclipsa com o sol a noção de perímetro mínimo pessoal. Toda a gente se deita, não é ao lado, não é perto, não é encostado — é em cima, de toda a gente. Eu deitei-me ao sol, nem sequer tinha as pernas esticadas, e foi nos meus peitos (hahaha, que linda imagem) dos pés, que uma jovem buraqueira, muito tatuada e vestida com um fiozinho dental (que, como tal, andava para lá para dentro, desaparecido, mas avaliei pelo triângulo que lhe saía rabo acima), se deitou, fazendo dos meus pés almofadinha de praia. Ainda mexi os dedinhos, não em sinal de desaprovação — não fosse ela e o grupo que a acompanhava aborrecerem-se comigo, e eu sou frágil —, mas para verificar se ela estaria a dar-se conta do grau de intimidade que havíamos atingido em público, sem sequer termos sido apresentadas. Qual nada, continuou de headphones pela cabeça adentro, penso que até considerou aquilo uma caribbean head massage. 
Portanto, hoje, é capaz de ser melhor nem me descalçar.

8 comentários:

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    1. A próxima que se deite cá no pezinho, fica sem tímpanos :D

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  2. Epá, ganhei uma aversão a Carcavelos. Qd for assim, ide para as avencas, é mais pequena, é certo, mas mto mais civilizada.

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    1. Eu fui lá hoje, para não ficar a "aguar" de ontem. Mas, ao fim de semana, nem arrastada para ali vou.

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  3. Ah, e detesto essa mania das pessoas tentarem arranjar espaço onde n existe. Pior mesmo, só aquelas que, em havendo espaço de sobra na praia, insistem em colar-se a nós (algumas vezes pq são, ridiculamente, preguiçosas, e alapam logo à entrada, p n andarem mto. Outras, n consigo mm compreender.
    Mas ainda hoje assisti ao fenómeno (q se encaixava na primeira categoria, é certo).

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    1. Hoje passei uma dessas, do povo que não percebe o que é um perímetro, mas com o guarda-sol. Lá o afastei uns metros, mas ainda puseram as toalhas de maneira a estar perto. Não sei se tenho mel, ou se as dioptrias afectam a visão 3D a algumas pessoas...

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    2. Na realidade n me devia queixar n é verdade, faz bem ao ego. Deve ser isso deve. Sou irresistível ;)

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    3. Eu sou tão má comigo mesma, que chego a perguntar-me o que é que há de errado comigo, que parecem moscas! :D

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