16/04/2015

Hoje acordei transformada numa valente porcaria

Isto, partindo de mim, até é um elogio: a palavra porcaria é das mais bonitas da língua portuguesa. Não tem vogais abertas, que nos gritam, enrola dois erres como só os portugueses e os romenos - sei lá se sim, mas acho que sim, portanto, é sim - sabem enrolar, que chegam ao cúmulo de ter um símbolo fonético próprio [ɾ], tem quatro vogais para quatro sílabas, e uma musicalidade rara. Maravilhosa, porcaria.
Pronto, já sei que saudade é lindo, e é único e é intrínseco e ai o fado, o futebol e Fátima e também o coiso.
Mas eu gosto de porcaria. E esse meu gostar pode ter sido um dos motivos subconscientes, para além dos outros todos (falta de imaginação, impulsos irreprimíveis, delirium non tremens, indiferença absoluta pelas minudências) que me levou a chamar Linda Porca ao meu buraco. 

Posso afirmar, com alguma segurança e curtíssima margem de erro, que acordei doente. E esgotada dos meus nervos. Passei a noite inteira a tossir, pelo que não me deixei dormir. Um ferro, como diria o Ega. Estive tentada a sovar-me, ou então a asfixiar-me com a almofada, a ver se me calava. 
A febre possuiu-me, à bruta, sem pedir licença. Sinto-me bêbada, se é que sei o que isso é. Nunca estive bêbada, que me lembre, a não ser daquela vez que nem me quero lembrar. Portanto, é como se não. 
Ou seja, acordei uma valente - stricto sensu, por incapaz de ficar a vegetar na cama, ai Lurdes, Lurdes, que vou morrer - porcaria, o que, ainda assim, não permite que me possa considerar um lixo, um trapo, um desperdício. Julgo que devo ter frequentado a Escola Estóica noutra encarnação. Levantei-me da cama, pus-me fresca, fina, magra e gira (e só não digo boa, porque isso pode gerar alguma confusão com o termo curada, e não é o caso), e ala que se faz tarde, pese embora deteste esta expressão. 
A caixinha da saúde faz milagres. Não percebo, mesmo, por que é que não existe um altar nas igrejas com um kit completo de maquilhagem. Ninguém diz, olhando para mim, mesmo que de soslaio, que os meus brônquios estão pejados de tamanha quantidade de nhanha e que as minhas pequenas fossas nasais gritam por misericórdia. 

(Vem-me à lembrança, no intrincado de uma difusa memória que julgo ser minha, porém tão nítido como se fosse, a visita do pediatra - extremamente bem apessoado, benza-o Deus - ao quarto da maternidade, aquando do nascimento da terceira filha, puérpera toda pintalgada de fresco por méritos da tal caixinha, e o elogio Mas você está tão bonita, ninguém diz que... Heh. Poder-me-ia gabar de ter enganado mais um, mas sei lá se não estou a fazer confusão com outra pessoa)

Pretendo passar o dia de hoje, todinho, a babar-me. Não que me doa a engolir - e, ainda que doesse, uma estóica é uma mulher, não é uma rata -, mas sim por considerar que as litradas de secreções que me assolam as vias não podem nem devem ser digeridas pelo estômago. Ainda engordo.
Tenho a cabeça cheia de hélio. Não sei como é que ainda não comecei a falar com voz de desenho animado. Sei apenas que só não levantei voo rumo às nuvens porque o corpo me pesa o suficiente para que o balãozinho que o encima não tenha sequer forças para o içar.
Não sei que raio de assunto é este meu, hoje. Ah, já sei: o assunto sou eu.
Não tenho mais nenhum, neste dia que corre. Se, por acaso, surgir algum, entretanto, eu volto. Se não, olhem, talvez amanhã, com um daqueles fracturantes. O de hoje é apenas fraccionário, uma vez que eu estou a valer mais ou menos um terço do meu valor real, quanto mais do de mercado. 
Não consigo fazer melhor. 
Também tenho dias em que não valho um caracol - dos meus.
Porcaria da Porca (e também adoro aliterações).

12 comentários:

  1. Anónimo16/4/15

    As melhoras fanhosa! :-P

    Beijos

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    1. Sou a maior, até mesmo na fabricação de gosma! :P
      Obrigada, Todo Nu!

      Beijos

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  2. As melhoras, Linda.
    Outro Ente.

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    1. Obrigada, Outro Ente.
      As árvores morrem de pé.
      Linda Porca.

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  3. Anónimo16/4/15

    Digamos que o PSI 20 da LP vai fechar o dia em ligeira queda. Acontece aos mais fortes, como de resto se tem visto amiúde.
    As melhoras. Amanhã é outro dia.

    Abraço

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    1. Mesmo que a queda não seja ligeira, nada é irrecuperável nesta bolsa.
      É isso mesmo: After all, tomorrow is another day.
      Obrigada, JM.

      Outro para si

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  4. Ehehehe.
    Dias difíceis !
    Boas melhoras, L. P. !

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  5. As melhoras, bear hug para ajudar :)

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  6. Anónimo17/4/15

    Suadela a 4 joelhos e ficas logo fina ;)

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