06/04/2015

Ciúmes que doem como ciúmes

Não sei o que é que sente uma criança a quem nasce um irmão. Nunca me aconteceu tal coisa, sempre fomos só as duas, próximas, criadas como gémeas sem sermos. Gozava eu dos benefícios de ser a mais nova e, simultaneamente, de não ter que esperar pela minha vez para começar coisa nenhuma, porque éramos  as duas ao mesmo tempo em tudo. 
Também não tive oportunidade de saber o que é o ciúme mais tarde, pois nunca me surgiu rival amorosa à altura, ou era eu que era demasiado distraída e crédula. Ou tive sorte. Ou era só parva, como agora sou menos vezes, mas também.
O Francisco dos olhos verdes - traição - não conta, que esse me deu tantos motivos para me morrer ou me matar de ciúmes que o devia ter feito morrer ou matado pelos mesmos motivos que ele me deu a mim, mas, lá está, o desábito de sentir ciúmes por os desconhecer, e, por isso, não os reconhecer, não me iniciou ele neles. 
Aquela coisa de a inveja ser um ciúme mal dirigido (acho que inventei isto), é capaz de ser verdade, mas também nunca fui vítima de semelhante infortúnio, ou por me achar o máximo, ou por me achar o mínimo, e não estar disposta a fazer comparações absurdas que me levassem ao zero, através de uma passagem pelo noves-fora. 
Não sei invejar ninguém, mas é defeito meu, consequência de erros meus, má fortuna, amor ardente. 
É isso, amor ardente. 
Não sei o que é ciumar. Mas, às vezes - não sei explicar isto muito bem -, sinto um balão vazio, a precisar de ser rebentado para se esvaziar melhor, uma desgraça fininha, um incómodo agudinho, um transtorno cinzento, um sapato apertado. Será isto?
E, no entanto, sinto ciúmes de mim, por não saber ao certo o que é sentir ciúmes. 

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