Deu-se que fui tirar um mísero café, a troco de cinquenta cêntimos sem troco, da máquina dispensadora, mas, ao invés disso, ela dispensou-me um copo de água quente um bocado suja, tipo um chafé chalado, e eu queria mesmo era uma bica daquela bica.
Então, rarefeita, contrafeita e quase desfeita, dirigi-me a penas apenas ao balcão, copo de mijaroca na mão, já com a resposta que ia receber preparada: "Nós não somos responsáveis pela máquina".
- Nós não somos responsáveis pela máquina. — Disse-me ela assim para mim.
Foi quando comecei a argumentar que não podia ficar sem café (não podia, efectivamente) e sem dinheiro. Evitei aquele outro chavão, não é pelo dinheiro, é pelo princípio (porque, na verdade, também era pelo dinheiro, porque eu não sou só pelintra, sou também sovina), e tratei os meus cinquenta cêntimos como se fossem cinquenta euros, a ver se dava a entender à pessoa que a grande questão se prendia mais com a necessidade de injectar o líquido no sistema sanguíneo do que pela pobreza franciscana em que me ia deixar tamanha perda. Ela sossegou-me, garantiu-me que o técnico ia lá todos os dias e que, no dia seguinte, me restituiria a moeda.
(Lá fui pular sem cafeína, e depois admiro-me que não rendo o que gostaria no ginásio.)
Não fui no dia seguinte, mas para aí dois dias depois. Directa ao tal balcão, quis saber da minha moeda. Diz-me ela que ainda não era possível dar-ma de volta, que eu aguardasse mais uns dias, e foi aí que só não perdi a cabeça porque as vértebras não o permitiram. No entanto, apesar da revolta interior que ameaçava libertar a besta que também me habita, questionei, quase em falsete:
- Então quando é que isso é possível? O técnico não vem todos os dias? Era só tirar a moeda da máquina e restituir as indevidas. Ou não?
- Não, porque a situação é reportada e ainda vai à central. De lá é que dão o ok para as restituições.
(Senti-me morrer um nico, como everytime we say goodbye.)
* não fui eu que inventei, créditos para um grupo com quem trabalhei, num local onde era recorrente fazermos chafé. (Acho que por engano.)
O chá de café faz lembrar aquela bebida homeopática, uma parte de café para cada mil de água, uma instituição nacional há uns anos, não tantos assim: carioca de café (já há algum tempo que não ouço ninguém pedir tal, é bem verdade, o que não significa que esteja extinta...) Talvez os donos da máquina sejam uns revivalistas, afinal.
ResponderEliminar[Pobre café, sujeito a tais tratos de polé...]
Porém, o chafé é muito à frente do carioca, do mazagran, de qualquer coisa que não seja uma água suja por vestígios de café. Lá onde aprendi o termo, fazíamos chafé de todas as vezes que nos esquecíamos de retirar da máquina a bolsa do chá, e acrescentávamos café ao filtro, o que dava uma impensável bebida, nunca tragada por qualquer de nós!
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