Talvez ao longo de uma longa vida, todas as pessoas se desdobrem em várias; talvez só assim entenda e aceite que perdi todas as minhas mães — e foram tantas — de uma vez, numa orfandade multiplicada por inúmeras, que nem sei por qual hei-de começar a chorar primeiro. Eu própria fui todas elas enquanto filha, primeiro acabada de chegar, depois criança, mais tarde adolescente, a seguir eu própria mãe, fazendo da minha mãe, mãe, mulher, a senhora que foi sempre, e depois avó. Faltam-me todas, mas, paradoxal e egoistamente, falta-me mais do que todas a última, falta-me precisamente a que já não estava, dependente — ou mais independente do que nunca — e ausente, entregue, e tão mais minha. Do que nos sobrou nos últimos anos, daquele ténue vestiginho de mãe, é o que me faz verdadeiramente uma falta esmagadora. Se pudesse fazê-la regressar, quem sabe não optaria por recuperar — paradoxal e egoistamente — a minha última mãe.
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