O que fazer a uma pessoa que trabalha na tua casa há dezanove anos, que já viu nascer — não literalmente — dois dos teus filhos, que é (quase) mais um elemento da tua extensa família, e que amua?
Se já não é a Miss Simpatia, e anda de carona fechada na rua — queixando-se que os vizinhos não lhe dão boa tarde, pois pudera, se os meus vizinhos são praticamente todos mal educados, diante daquele semblante, até eu, que pareço uma candidata à Câmara, preferiria virar a cara para o outro lado —, a facilidade com que amua, e assim fica por dias seguidos, é coisa para me fazer sentir não a mais na minha casa, mas com ganas de a pôr a menos a ela.
Por exemplo, hoje: disse-lhe que não passasse a ferro uma t-shirt que tenho, decote em barco, que o ferro fez com que ficasse decote em navio porta-aviões, um autêntico desassossego, cai a manga, cai o decote, cai nas costas, cai tudo, e só não revela nada de importante porque, ou só alargou no decote ou é muito estúpida (refiro-me à t-shirt). Já ficou de cara torta, porque dizer-lhe que o ferro deu cabo de uma t-shirt é o mesmo — para ela — que dizer-lhe que fez de propósito para me dar cabo dela, por maldade, inveja, ou sei lá o quê, de uma porcaria da Zara* que me custou 5 euros.
Imagem obviamente gamada |
Eu digo: Estas blusas — porque tenho mais duas semelhantes — não podem ser passadas a ferro, menos ainda com ele tão alto. Esta já está com o decote alargado a um ponto que não posso voltar a usá-la. Ou então, isto deve-se à qualidade Zara.
E ela ouve: Estragaste-me esta blusa, que foi caríssima, porque, de maldade, ligaste o ferro no máximo, só para eu não voltar a usá-la, logo esta, que é a minha preferida e me fica tão bem.
É que só pode. Ainda, parva, lhe dei a dica da falta de qualidade da roupa da Zara — quando disse qualidade Zara, era uma ironia! — para a desculpar de uma culpa que ela, obviamente, tem — canso-me de lhe dizer que não use o ferro no máximo para tudo —, e ainda a tenho de bezerra durante os próximos dias — que, no caso presente, serão só dois, a contar com hoje: outro dia avisou-me que, para a semana, vai de férias durante uma semana inteira, e eu caí para o chão — não literalmente, também —, indecisa entre o pânico e o alívio. Devia ter amuado, era o que era.
* ninguém me paga para me calar
Não tenho paciência para...
ResponderEliminarTive um namorado, há uns anos, que depressa e por tudo amuava.
Hoje somos amigos mas agradeço o amuanço (esta palavra não existe, certo? então inventei eu)
dele na minha vida. Com ele aprendi que não sou obrigada e não tenho paciência para certos amuos sem nexo.
Pois, porque lá está: muito diferente é a outra pessoa ficar magoada, ninguém está livre de ser desastrado ou intencionalmente mau. Agora estas florzinhas, que uma pessoa escolhe as palavras e usa punhos de renda e naperons, e, mesmo assim, tudo lhes cai mal, conseguem fazer baixar em mim a besta.
Eliminar(amuanço, se não está, já devia estar no dicionário. Muito por culpa destas pessoas :))
Eu sei que é difícil arranjar alguém de confiança para nos tratar da casa, mas não conheces alguém que indique outra pessoa de feitio mais agradável?
ResponderEliminarE outra coisa, os teus vizinhos são todos como a outra parvalhona que te riscou o carro? Estás bem arranjada... :)
AL
Eu queixo-me, mas não sei viver sem ela. Na verdade, são quase 20 anos, ela é muito fraquinha no trabalho, mas tem qualidades muito raras: sempre deixei os meus filhos com ela e ficava descansadíssima e também posso deixar ouro em pó em cima dos móveis, que ela não mexe. (Também porque não limpa o pó :D)
EliminarNão são todos iguais a essa cujos níveis de cabrez estão no pináculo.
:)
ó diabo, partilhamos a mesma senhora da limpeza?!
EliminarExiste uma alta probabilidade de isso acontecer, como sabes :)
EliminarA minha passeia-me pela casa de segunda a sexta, todas as manhãs.
Pois, já percebi que não é defeito, é mesmo feitio ahahah Digo eu que sou a rainha dos amuanços (confirmado por todas as minhas pessoas).
ResponderEliminarBeijinhos Azulinha e bom fds 🌸
Miss
É mesmo feitio, aquilo tem a ver com uma história de vida muito simples (mais velha de 4 irmãs, que sempre achou que a mãe dispunha de mais tempo para as outras 3 do que para ela), que a deixou incapaz de considerar que um reparo não é necessariamente uma agressão ou uma falta de afecto.
EliminarBeijinhos, Miss Curvas.
Obrigada, bom fim de semana também (é tão gira, essa flor :))