Foi aqui que nasci, aqui fui criada. Também foi em Lisboa que fui concebida. É com muito orgulho — não sei porquê — que digo que fui talhada na avenida de Roma (meu amor): os meus pais moravam na parte mais luminosa e mais bonita da avenida, quando decidiram — ou eu por eles — que estava na altura de me encomendarem.
Tenho o Alentejo nas veias, o Porto nas costelas, tudo junto, e ambos no coração. Bem vistas as coisas, vou até ao Minho, porque de lá vem também uma pequena parte daquilo que sou. Existem muitos lugares onde me sinto em casa neste país, que me trazem a infância aos sentidos, que me devolvem a adolescência à memória.
Mas é Lisboa o meu berço, é esta cidade o meu barco, é aqui que eu quero ficar, mesmo quando já não houver vestígio de mim. Não a adoptei como minha, apesar da condição de forasteiros dos meus pais: ela acolheu-me, recolheu-me, embebeu-me e, assim, me complementou, completando-se.
Hoje, por algum motivo daqueles que não se explicam — ou então, cuja explicação é tão inconfessável que mais vale ficar trancada no coração —, ocorreu-me que até na fractura tectónica esta cidade e eu nos assemelhamos: são tantas as vezes que sinto que transporto comigo uma falha (pela qual rezo para que não se mova jamais), que tenho mesmo a veleidade de imaginar — imagine-se —, que Lisboa sou eu.
Hoje, por algum motivo daqueles que não se explicam — ou então, cuja explicação é tão inconfessável que mais vale ficar trancada no coração —, ocorreu-me que até na fractura tectónica esta cidade e eu nos assemelhamos: são tantas as vezes que sinto que transporto comigo uma falha (pela qual rezo para que não se mova jamais), que tenho mesmo a veleidade de imaginar — imagine-se —, que Lisboa sou eu.
És um puzzle :) talvez a "falha" também venha daí...
ResponderEliminarAlguma peça que não encaixou completamente noutra :)
Eliminare fazia-se um título de uma canção, arrisco dizer, um fado, sugiro, Marisa, outros diriam Camané (deve haver mais nomes bons, dos sonantes, até te digo, Pedro Abrunhosa, pegava-lhe, mas o homem respira Invicta- e trauteava-se um refrão sem "falhas" por esse mundo fora.
ResponderEliminarbeijinhos, Linda
O homem não dava para este fado inventado por ti, Mia. Eu propunha Sónia Tavares, e isto dava um perfeito coração naquele vozeirão.
EliminarBeijinhos :)