Ela é aquele querido polvo de cujos tentáculos nunca escapamos completamente, mas nem no mais íntimo dos nossos corações desejamos que tal aconteça.
Doddie Smith (1896-1990)
Esta frase - e, mais tarde, a vida - deu-me a certeza de que deveria nascer mais um par de braços a todas as mães, de cada vez que lhes nascesse um filho. Se essa necessidade não se sente com a mesma premência aquando do nascimento do primeiro, já o mesmo não se pode dizer em relação à chegada do segundo, terceiro e seguintes. Ninguém faz uma ideia, por alto, até ao dia em que se vê com duas crianças pequenas nos braços - literalmente -, que são só dois, o que é o simples atravessamento de uma rua, ainda que uma delas vá sentada num carrinho. Então, raciocinemos juntos: e com três? E com quatro? Se todos tiverem idades muito próximas uns dos outros, qualquer saída à rua, ainda que seja para ir ao parque infantil, ainda que ele fique a cinquenta metros, e ainda que metade dos filhos vão sentados num carrinho gemelar, obriga a uma estratégia verdadeiramente militar, aliada à conjugação óptima entre as condições climatéricas, as horas das sestas, as horas das refeições, as horas do chichi-cocó, o raro momento em que estão todos vestidos e calçados, em que todos os chapéus estão postos nas cabeças e em que está pronta a mala de viagem que é necessária, com água, pacotes de leite, bolachas, biberons, chuchas lavadas, toalhetes, fraldas de emergência, lenços de papel e também o camandro, tudo conjugado para transformar uma simples saída com a duração prevista de uma mísera hora, numa viagem pelo espaço de duração ilimitada, completamente dependente da boa vontade, do esforço, do humor, do clima, dos astros, do acaso, do azar, das bruxas, e de todas as coisas visíveis e invisíveis que possam determinar, em décimos de segundo, o sucesso ou o abortamento do passeio.
Portanto, cada filho, mais um par de braços. Uma mãe com quatro, seria uma espécie de polvo, sim. Os polvos têm oito tentáculos, sabiam?
Uma mãe com cinco, seria assim como a deusa hindu, Durga, com dez braços.
Mais filhos, mais braços - acho que já perceberam a minha ideia.
Ah, e os pais, coitados, ficavam de fora dessa equação?
Pois que não. Aos pais, também nasceriam braços, aos pares, em função do número de filhos que tivessem. Isto teria mesmo uma dupla vantagem: a que já expliquei e a de resolver, de raiz, todos os problemas de impugnação e investigação da paternidade. Ah, não sou o pai. Pois, não serás, mas esse novo par de bracinhos que aí tens a nascer diz o contrário, Pinóquio. Pumba.
Aliás, eu até acho mais: aos pais - homens - até deveria crescer a barriga, durante a gravidez dos filhos, na mesma proporção que cresce a das mães dos filhos que são deles. Já não haveria cá merdas com Eu cá não sou o pai, nem com É claro que é teu filho, então haveria de ser de quem? Do padeiro, não? O padeiro, de uma vez por todas, ver-se-ia obrigado a assumir a paternidade das crianças todas da aldeia, porque a sua barriga, caso fosse ele o pai, não pararia de crescer. Pumba.
Este teu post é muito bom!
ResponderEliminarSabes o que te digo? O po(l)vo é quem mais ordena. Ou era?
Já fiz um niquinho melhor, mas obrigada.
EliminarNão. Ordenha.