Não, não é Murphy: sou eu.
Também não é a bitch Karmen: sou eu.
Eu atraio. Eles vêm ter comigo. Querem-me a mala.
Queres-me a mala. - É sempre meu primeiro pensamento, quando os vejo chegar.
Dá-se que a pessoa pouco frequenta o metro. Já teve fases, agora não está numa.
Não vale a pena discorrer aqui sobre os estudos antropológicos que se podem fazer nas várias estações do metro por onde vamos passando. Regra geral, a conclusão é a mesma. De duas, uma: ou tudo o que é gente que faz um incomensurável esforço por se vestir descontroladamente, em termos de padrões e cores, qual manta de patchwork, se enfia metro adentro, ou aquilo é uma amostra do povo português, impurificada pelos meus olhos puros, uma espécie de crème de la crème, essência, substância, seiva daquilo que somos nós. O povo português faz gala em apresentar-se agressivamente mal.
Está uma carruagem cheia de gente, eu sentada num banco, a meio dela, e entra um homem e uma mulher, aparentemente nada um ao outro, e sentam-se - ele, à minha frente, ela na minha diagonal esquerda. Basta-me tacar os olhos nos dois para perceber: 1 - São ladrões; 2 - Pertencem-se; 3 - Querem-me a mala; 4 - Eu também me quero a minha mala.
Ora porra. Temos interesses descoincidentes.
São muitos anos a virar frangotes. O perfil do ladrão dos transportes públicos é sempre o mesmo. É parecido com o perfil do ladrão do centro comercial, mas menos refinado. Um dia, tiro uma fotografia aos dois tipos, só para mostrar aqui. O dos transportes é magro, agarrado, está sempre nervoso, vem sempre acompanhado por outro e usa óculos de sol. E é isso que o denuncia, antes de qualquer coisa. Assim como o do centro comercial:
Óculos escuros num sítio público fechado = ladrão.
Fixem, que eu não duro sempre. Ainda que vos pareça que ele anda sozinho, procurem no perímetro, que está outro semelhante, com toda a certeza absoluta. Faz parte do esquema: um saca, passa ao outro; se alguém der por isso, é o primeiro que está na mira da multidão, já o outro leva o objecto bem longe. Já vi isto acontecer tantas vezes, já fui abordada tantas - mas dezenas! - de vezes, com este esquema, que já os topo em segundos.
E nunca, nunca, fui roubada. Basta que eles percebam que nós já percebemos, para desistirem.
Com estes dois, bastou-me olhar para um, olhar para o outro, pousar as duas mãos na mala, que estava no meu colo, e desatar a tamborilar as unhinhas vermelhas em cima da malucha. E não desviar os olhos dos óculos de sol do magano que tinha à frente. Fogem que nem ratos. Uns meninos.
Nisto tudo, assustador, e também misterioso, é: que olho de lince têm eles, que dispara a partir da plataforma, para entrarem na carruagem e irem direitinhos a mim? E não, não é por acaso: eles topam as malas no momento em que estão parados, na estação, e escolhem o alvo a partir daí.
Querem-me a mala. Hah.
Sacanas, credo. Tenho medito de andar de metro, por causa disso.
ResponderEliminarEles também andam no autocarro. Não tenhas medo, acredita que eles têm mais. É tipo os cães, tens que mostrar a valentia que (não) tens.
EliminarAlguma vez um ladrão pode andar sozinho? Nunca, porque 'este mundo' está cheio de ladrões. O próprio ladrão teme o que se passa em seu redor.
ResponderEliminarIsto para não falar dos ladrões autorizados. Presumo que saibas de quem falo.
PS: espero que saibas mesmo de quem falo, para não ter que ocupar muito espaço a indicá-los.
Mas ladrão que rouba a ladrão... não entendo o preconceito deles...
EliminarPS: Antes de teres que me fazer o boneco, deixa-me pedir-te que não rebentes com o meu blog. Essa lista é demasiado extensa para que a minha fraca caixa consiga aguentar.
Percebeste! Estou orgulhoso de ti, LP colega de blogosfera :-)
EliminarTu existes mesmo?
Eliminar:P
Não, sou um holograma :-)
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