Este assunto é delicado, no fundo. Porém, a delicadeza é um dos meus muitos predicados, um verdadeiro fenómeno que me afecta para aí de três em três minutos, pelo que sigo em frente, tranquila.
Aqui há uns anos, pelas bodas de Santo António, a mãe de um dos noivos morreu em plena cerimónia dos casamentos. O facto foi de grande constrangimento, não só pelo trágico acontecimento, como também pela estratégia a que obrigou a Câmara de Lisboa, na remoção do corpo e, depois, com o cancelamento da cerimónia propriamente dita. Tal só não chegou a acontecer, porque o próprio noivo, filho da morta, recusou-se a estragar um dia tão importante como aquele, por causa do inesperado falecimento da mãe. Também acho, haja decência. Que raio de hora para se lembrar de morrer.
A cena está magistralmente descrita no livro Adopta-me da (eu dizia-vos "minha amiga", porque é verdade, mas depois ainda me chamam cagona ou coisa pior, portanto, não digo) Maria João Lopo de Carvalho (Oficina do Livro, 1.ª edição, Abril de 2004, pp. 127/134).
Foi esse episódio que me revelou, qual iluminação divina, uma grande teoria, a reter: é ou não é verdade que a morte da sogra deveria fazer parte integrante da cerimónia do casamento? Imbuída daquele gigantesco espírito de abnegação que se quer numa boa sogra, a senhora, a dada altura da boda, faleceria, por sua auto-recriação, assim como fez aquela outra dos noivos de Santo António, em nada beliscando o decorrer das festividades, menos ainda do ambiente de celebração amorosa de que se devem investir todos os casamentos.
Toda a gente tem uma sogra. Ou, se não tem, deveria ter, que era para não andar cá a chatear meio mundo com frustrações e porras, porque a idade de ter filhos já era, ai que entretida andei estes anos todos a afirmar(-me) que os trinta são os novos vinte, e os quarenta são os novos trinta e ai-ai-ai, quase com cinquenta e não tratei do assunto filhos, sinto-me com trinta, pareço ter trinta, pelo menos é o que me diz o espelho todos os dias, socorro, nem pai para eles, quanto mais agora filhos.
Bom.
Uma sogra faz uma falta do caneco. Uma sogra, uma boa sogra, A sogra por excelência, é sinónimo de marido, companheiro, namorado, amigado, junto, amigo às corzinhas, tantas coisinhas boas acopladas à boa da sogrinha.
Só que uma sogra também é uma pessoa que se mete. Mete-se na nossa vida, na vida dos nossos filhos, na vida do filho dela - que calha a gostar de nós, ó defeito imperdoável que o menino tem, mesmo até aos olhos de uma mãe!
Assim, morria no dia do casamento do filho e não se falava mais nisso. Não chegava a ser sogra, na verdade. Poupava-se uma trabalheira em mal-entendidos, mau ambiente, más caras e maus olhados.
Aparte para explicar que não estou a falar da minha sogra, mas em sogras, enquanto conceito geral. Já não possuo minha rica afim no primeiro grau da linha ascendente, para que saibam. Portanto, não é de rancor pessoal que falo, e sim das sogras todas do mundo inteiro, brancas, pretas, qualquer cor.
Provavelmente, alguém me aparecerá aqui a perguntar por que é que só considero sogra a mãe do elemento masculino do casal. Ó pá, porque sim.
Ou então, alguém me perguntará: E se for um casal gay, qual das duas é a sogra, em teu douto entender, oh Porca? Eu respondo já: as duas. Há que falecerem as duas na boda. Duas coelhas naquela cajadada, uma coisa em grande, duplex, simplex.
Capaz também de alguém se assomar com a inteligente pergunta: Olha lá, Porca miséria, e se for o teu filho a casar, como é que te governas com a tua teoria? Errr... é verdade. Puxa, genitais, nunca serei grande nesta vida. Todas as minhas magnânimas teorias escorrem para o ralo da pia infecta, rebatidas por mim mesma. É que nem chegam a ir ao crivo das sumidades.
Eu não quero morrer.
Afinal, é mentira. Mudei de ideias.
Esqueçam tudo o que eu disse para trás. Atirem lá para trás. Oiçam apenas a melodia.
Por mim nada a dizer, desde que não fosse a sogra dele, logo, minha mãe.
ResponderEliminarIsto se estivermos a falar de morte mesmo morrida.
Se for de morte simbólica, tipo, eu caso com ele e tu desapareces no firmamento juntamente com as tuas opiniões que ninguém pediu, então assino por baixo. Já!
Essa é a premissa: sogra é a mãe do elemento masculino do casal.
EliminarA tua versão deve ser considerada. Vamos desenvolver o pensamento por aí.
Aquela habilidade para opinar, mesmo sobre assuntos que não dominam (amamentação, por exemplo. Nenhuma amamentou, mas percebem tudo acerca das nossas mamas. Fan-tás-ti-co), só pode ter sido aprendida numa escola comum. Descobrimos onde fica e detonamos a escola?
Sou obrigado a 'desenvolver o pensamento por aí', LP?
ResponderEliminarNão senhor. Isto aqui é, simultaneamente, uma democracia musculada, e um espaço de livre pensamento.
EliminarContracenso :-)
EliminarContrassenso? :)
EliminarEra aí que estava a piada...
Enquanto lia estava mesma a pensar como seria se fosse a mãe da noiva :)
ResponderEliminarA mãe da noiva é uma senhora muito santa, que deve ser preservada como tal, quiçá venerada durante toda a cerimónia :)
Eliminar