28/12/2018

um abraço de (minha) mãe

Conhecemo-nos quando eu precisei dos serviços dela, começámos por uma relação cliente-prestadora, mas acabámos, logo de início, numa infindável amizade de confidências e gargalhadas. Anos volvidos sobre esse primeiro encontro, vi hoje a mãe dela pela primeira vez. Atravessou há dias o oceano que a separa agora sempre, e talvez para sempre, da filha, que mal viu em dez anos, numa única vez de breve visita. Surgiu-me no corredor de casa, pequenina e afável, o cabelo muito branco e a doçura que só o olhar das mães consegue reflectir, e fiquei desde esse momento sem saber quem tomou a iniciativa de abrir os braços a quem, não me lembro se abracei ou fui abraçada, foram uns frágeis braços que me tomaram inteira, fui eu que me enleei, cingindo-a como minha, e houve um momento em que ela me disse baixinho, "Deus te abençoe, filha". E eu sei - porque senti - a minha mãe enlaçada comigo, connosco, naquele abraço.