Até já tinha lançado os dados (sob a forma daquela máquina que determina se sim ou se sopas relativamente à nossa sorte) para ver se é desta que me sai o bolo gordo. Porém, encontrava-me numa daquelas pausas para a bica que só eu, e, logo ali ao lado, noutro balcão, duas senhoras pediam "É um Euromilhões da máquina, se faz favor". A chávena fumegava-me narinas acima, o pensamento não voava lesto, ficava logo ali, em mil projectos para a fortuna que me espera mais logo, quando uma delas proclamou, ela sim aos quatro ventos (dos pontos cardeais, ámen!), "Esse não quero, tenho a certezinha absoluta que não me vai sair nada!". Todo este fusuê porque a tal máquina lhe havia atribuído, dos cinco números que só são mágicos se também souberem agarrar as estrelas, três seguidos.
É certo que a minha obrigação humanitária era dirigir-me-lhe e esclarecê-la de que as probabilidades de lhe sair "alguma coisa" são as mesmíssimas se três dos cinco números forem seguidos — no limite, até a chave 1-2-3-4-5 tem as mesmas hipóteses do que qualquer outra —, salteados (em azeite e alho então...), múltiplos de 5, raízes quadradas ou uma tabuada qualquer. Porém, no amor e na guerra (e aqui trata-se de ambos) vale tudo. E eu, agarrada a uma superstição que diz que o jogo rejeitado dá sorte (a qual não consegui confirmar online, aquele recurso que tudo sabe), praticamente voei para a rejeitante, afirmando, peremptória: "Quero eu". E, armada em enigmática, ainda concluí: "A senhora vai tão lembrar-se de mim". (Diz a outra, que a acompanhava: "Ai, por acaso, era muito engraçado se acontecesse!") (E depois ainda enfatizou: "Tinha mesmo muita graça.") (Com amigas daquelas, a pobre não precisa de inimigas.) (E sim, continuará pobre.) (Ao passo que...)
Bom, isto tudo para dizer que mais logo à tardinha já vou estar feita maluca no Ebay, a comprar cenas caras e inúteis. Cá beijinho no ombro.
(Capaz de mandar um também à responsável pela minha fortuna. Foi querida, ela.)
e quando te perguntarem como ficaste rica, explicas: "tudo começou com uma rejeição"
ResponderEliminarCruzo a perninha, boto os dois pés em cima do pechiché, acendo um charuto daqueles que ninguém suporta o cheiro (mas que remédio senão estar calado, pois trata-se de madame), e então posso proferir essa frase.
Eliminar