Desculpem. Sei que estou a aproveitar-me de uma ideia, mas não me apetece ser um dos elos de uma corrente. Pelo menos, desta vez. E não vou linkar. Desculpem.
Mas é que estava aqui a ler estes posts, de certa forma revivalistas, até certo ponto saudosistas, e lembrei-me da cena que foi a compra de uns ténis para mim, aqui há uns meses, poucos, em que me acompanhava a minha filha mais nova, e, perante a minha indecisão entre uns Nike cinzentos e uns Nike com a onda cor-de-rosa, me esclareceu,
Ó mãe, tu já não tens dez anos.
E o que tem mais piada é que eu pensei,
Isso julgas tu.
E também,
Olha, tenho. Multipliquei-os pelas vezes que me apeteceu, e, se calhar por isso, tenho-os, intactos.
Não podia explicar-lhe ali, nem em lugar nenhum, que os Nike dos meus catorze anos - não dez, é certo - eram brancos e tinham a onda azul ou vermelha. Ou então, andávamos de John Smith, que foram os pais dos All Stars que elas agora usam e julgam que só apareceram quando elas os calçaram.
Acontece que ainda agora comprei uma fita para pôr no meu cabelo quando venho do mar, que o faz de ondas espetadas e pouco pacíficas como as do Pacífico, e também sei que podia ter escolhido preta, lisa, como uma faixa de luto, um fumo, mas gostei mais de uma cor-de-rosa com cornucópias, e foi essa que escolhi. Então ela disse-me,
Ó mãe, tu já não tens doze anos.
Isso julgas tu.
Curioso como cresci dois anos aos olhos dela em poucos meses.
Não podia explicar-lhe ali, nem em lado nenhum, que, lá pelos catorze anos, nós usávamos bandanas americanos na cabeça, cheios de cornucópias, e pode ser por isso que eu vou gostar sempre daquele padrão, mais do que de preto, nos cabelos.
Depois dos ténis com a onda cor-de-rosa, já comprei outro par, todo em preto. Nesse dia, devo ter-me apercebido que já não tenho dez anos. Nem doze. Se calhar, nem catorze.
As filhas cuidam muito das mães, para que elas não façam figuras tristes. Os filhos cuidam para que as mães nunca fiquem tristes. Ou tenham medo.
Outro dia estava a atravessar uma avenida à noite e entre faixas havia um alçapão de respiração do metro, com uma grelha que me fez medo pisar e olhar lá para baixo ao mesmo tempo. Então, ele pôs o braço em cima dos meus ombros, disse-me aquilo com a voz que só ele tem, de olhos enormes e lindos, e atravessámos assim, eu sem medo de nada.
Já ninguém tem catorze anos, quanto mais dez ou doze.
Que post tão bonito, LB!
ResponderEliminarAL
Obrigada, AL :)
EliminarSe tivermos, por exemplo, 40 anos de idade, também temos catorze, ou doze, ou dez. Basta apenas juntar "para além dos outros todos".
ResponderEliminar:-)
Não tinha pensado por esse prisma. Limitei-me a fazer a multiplicação dos dez "pelas vezes que me apeteceu" :)
EliminarIsso da idade tem mto que se lhe diga. Eu,80% das vezes pareço/comporto-me como uma gaiata. Caguei!! Sou feliz assim ;)
ResponderEliminarTambém eu, com a "agravante" que estou mais longe de o ser do que tu :)
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