sabes, há minutos na vida em que me tomo de um tamanho que te caibo debaixo do braço, como naquele tempo em que te punha a ti debaixo do meu.
já estivemos juntas nisto quantas vezes, tu e eu? Batas, agulhas, receitas, palpites, exames, e aquele cheiro que se nos entranha e se nos intrinseca como se saísse da nossa pele e da nossa respiração.
já te vi no limite quantas vezes?
olha, e tu a mim, de te ver assim?
e já viste que estamos juntas naquele não saber, naquela expectativa que é uma porta blindada e, ainda assim, ou talvez por isso, estamos felizes por, ou apesar de estarmos ali?
reconhecemo-nos companheiras, sabemo-nos agarradas por aquele outro cordão que é feito de amor.
mas hoje não me está a apetecer nada ser feliz, porque de há uma semana para cá que me voltou a doer tudo até às entranhas de onde te me arrancaram, roçando o teu corpinho pelo meu coração e pela minha alma, logo ali ao lado.
não sei como fizeste aquilo, mas foi saber-te aflita e puseste-me a conduzir a cento e cinquenta e nove quilómetros por hora, eu, que nunca tinha passado dos cento e trinta, e fizeste-me fazer a maior viagem ao volante de toda a minha vida — só para te ir buscar.
e vou mais vezes, e vou de todas as vezes que te veja de asa quebrada, pintainho.
quero que estejamos sempre juntas, mas não ali.
tu prometes nunca mais adoecer, e eu prometo nunca mais me apetecer não ser feliz.
está bem?