Só quando saio da bomba é que tenho gasolina no carro. De resto, tenho sempre a impressão de que anda à pele. Ou porque ponho pouca — raramente passo de meio depósito —, ou porque ele consome muita. Também pode ser por ambos os motivos.
Empresto-lhe o carro para ir almoçar a Alcântara, mas o sinal de que já entrou na reserva soou há pouco. Digo-lhe que ainda dá para uns trinta quilómetros, que Alcântara será a uns doze, ir e vir, contando com as voltinhas, e que, possivelmente, dará para que não tenha que empurrar o carro até à próxima bomba. Pergunta-me ela, à saída, para confirmar:
- Achas mesmo que a gasolina que o teu carro tem dá para ir e vir?
- Acho. Costumo meter-lhe 20 euros, que me dão para 160 quilómetros. Desta vez meti 15...
E começo a desenhar com o dedo números imaginários, que só eu vejo, na parede azul da minha casa.
- ... ora, 20 está para 160, assim como 15 está para xis, 2 está para 16, assim como 1,5 está para xis; xis é igual a 1,5 vezes 16, a dividir por 2, ou seja, 24 a dividir por 2, olha, a gasolina que tem, tem que dar para 120 quilómetros, vê lá no conta quilómetros quantos é que já fez. Sabes que, aos 120, ela esgota-se e ele pára.
Tinha a parede azul cheia de números imaginários, desenhados no ar pelo meu dedo indicador feito pau de giz varinha de condão, brilhantinhos no ar, e a confirmação, pela enésima vez, de que sou o exemplo acabado de quem escolheu mal a vocação.
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