Entre os 14 e os 24, ninguém gosta de nada, nem de coisa nenhuma. Refiro-me ao paladar, que refina, ou regrossa, umas vezes porque odeiam tudo, outras vezes porque só gostam de [colocar aqui o nome de uma coisa qualquer, que tanto podem ser nuggets como grão de bico]. Eu só gostava de bife de vaca com batatas fritas e ovo a cavalo — do qual rapava a clara e deixava a gema para os porcos que não tínhamos — e, na loucura, arroz branco, que não havia cá essas mariqueiras do arroz integral, e basmati e thai. Aliás, qualquer desculpa para não comer pescada cozida com batatas igualmente, era boa. E criei-me assim, cheia de ferro e colesterol, do bom e do mau, sou um pêro de saúde, povoei o (meu) mundo alegremente, não me dói nada, não tenho nada crónico, não chateio ninguém com ais, uis e miares. Miau.
Então, discutiam elas como é que foi possível já terem gostado tanto de [colocar aqui o nome de uma coisa qualquer, que tanto podem ser nuggets como grão de bico] e hoje em dia nem vê-lo, ao que ele respondeu que, actualmente, gosta de muito mais coisas do que quando era pequeno (não sei quais, aquilo era uma frieira), e então digo eu, que tenho sempre que dar a minha opinião, especialmente quando ninguém ma pede:
(Eu era famosa por acabar todas as perguntas dos testes com um parágrafo iniciado por "Na minha opinião...", ainda que a pergunta fosse a diferença entre imposto e taxa, ou em que é que consiste o dolo.)
- O paladar muda muito, ao longo da vida. Eu era um pisco, que não gostava de nada, e hoje gosto de tudo.
Ele, que não perde uma oportunidade para dizer que gosta de mim, e também para me provocar, em doses amorosamente equilibradas, respondeu:
- Quer dizer: eu hoje gosto de ti, amanhã posso não gostar...?
- Não, porque eu não sou comestível. Só mesmo por isso.
- ...
- E também gosto de ti. Sempre gostei, e vou gostar para sempre.
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