Entro no café, feito café-bar, café-estádio, café-amor — ao clube. Há ecrãs em três das quatro paredes da sala. Conto vinte e cinco homens, e eu sou a quinta mulher. Para além de mim, estão duas miúdas de vinte e tais e duas senhoras de idade. Metade bebe cerveja, elas — as quatro — incluídas. Não me apetece uma também, pelo que me sento, a comer da tosta mista que ele mandou vir. Lembro-me que ele decidiu não comer porco nunca mais na vida, mas não lhe chamo a atenção para o fiambre, prensado entre o queijo e as duas fatias de pão escuro. Ele também não me lembra que eu estou de dieta para sempre na vida, e ficamos quites, como desde sempre. Há um sabor de orégãos, que é de amor quando ele olha para mim e me diz Come à vontade, eu já estou cheio, mesmo não estando.
As raparigas estão estáticas e inexpressivas, e fico sem perceber o que foram fazer ali. Bebem a cerveja aos golinhos, aumentando o sabor ao frete. As senhoras de idade sorvem a cerveja com gosto, comem amendoins às mãos cheias, mas só a mais velha, mãe da outra, põe os olhos, em linha para ver melhor, num dos ecrãs. Os homens revezam-se entre comentários técnicos, piadas desportivas e adivinhações várias, que me escapam a muitas léguas submarinas. Há uma ameaça de golo do clube amado, mas aquela que é a última a morrer, falece subitamente. Depois, logo depois, a desgraça do golo do clube rival. Um homem rói as unhas, outro faz-se vermelho, globos cristalinos, outro baixa os olhos de derrota na direcção do copo vazio, outro bebe a cerveja de um trago, outro discute com o companheiro de infortúnio que o campeonato está perdido, outro sai para fumar um cigarro, porque o ar está muito pesado. Parece-me que todos se refreiam para não chocarem as senhoras. Isso faz-me sentir a mais, para além de incapaz de perceber aquele amor. Então retiro-me dali, ignorante, e, sem ponta de despeito, pergunto ao vento do final da tarde se será que a capacidade para amar se esgota naquele amor.
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