Fui à varanda, já perto de dobrar o dia, com a desculpa que amanhã vai chover e recolhi a roupa de todos os estendais que são tantos. Na verdade — que, nestas coisas do coração, é quase sempre inconfessável —, porque personifico e prosopeio as coisas todas, senti que a roupa ia sentir frio de noite, e quis dar-lhe calor, não fosse ela sair a voar para outros corpos mais quentes e dispostos a amar. A noite estava gelada e passava fininho um vento macio de lâmina aguçada, mas eu não tinha nenhum casaco porque o casaco que levasse à varanda havia de ter frio também, e antes eu do que ele. Cá dentro, a montanha de roupa em pré-congelação, fez-me lembrar quando éramos pequenas as duas, e de noite vinha um anjo tapar-nos até aos ombros gelados, aconchegando-nos até ao calor, com os braços fininhos, que eram uma espécie de asas. (Deve ser por isso que se chama galinhas às mães.) Era uma montanha igual àquela, poderosa e firme, que nos cobria de certezas absolutas e bem-querença. Tive medo, quando pensei no meu anjo com frio. Imaginei-lhe os braços de asas, que nos pegaram ao colo, magrinhos e branquinhos, cheios de frio, e não dormi uma noite aquecida porque esse medo me arrefeceu as horas.
Hoje vou enchê-la de abraços, que preciso.
Hoje vou enchê-la de abraços, que preciso.
Enche-a de abraços e beijos :) tu escreves mesmo bem oh Linda Blue!
ResponderEliminarÉ mesmo o que me está a apetecer :) Oh, L. das horas, linda és tu! Obrigada :)
Eliminar<3
ResponderEliminarDiz-me que o que escreves não é plágio.
ResponderEliminar(entender isto em formato provocação)
;)
De quem, céus?
Eliminar(Agora diz-me que é da MRP e eu digo-te.)
:)