Que ela e eu não nos entendemos, é premissa da qual já ambas partimos, depois de nos termos apercebido do facto. As duas lidamos bem com ele, somos civilizadas, e, apesar das diferenças, somos também semelhantes, porque somos mulheres, mães, impulsivas, passionais. Quando perdemos a paciência uma para a outra, evitamos o conflito, sobretudo se em presença de outras pessoas, mas é claro para quem nos rodeia que nos toleramos na estrita medida em que temos que trabalhar juntas. Ainda assim, e porque gentes que vivem com as emoções sempre à flor da pele não são capazes de desgostar de ninguém, aos poucos, aquilo que poderia fazer nascer uma animosidade entre nós, que são as nossas desigualdades, tem vindo a perder a importância que, efectivamente, nunca teve.
Entrámos para a sala de reuniões, e éramos, somadas ela e eu, seis pessoas, das quais dois eram homens. Pousámos tralha e fardos, sentámo-nos a descansar da vida, e abrimos pcs e ligações ao mundo. Por pouco não saímos todos a voar janela fora, alheados uns dos outros.
Ela disse,
Hoje não estou muito bem.
E soluçou profundamente, levando as duas mãos aos olhos, enquanto os ombros acompanhavam o ritmo do peito magoado.
Éramos então cinco pessoas imóveis, paralisadas de surpresa. Aquilo durou em mim alguns décimos de segundo, só o necessário até que a paralisia me chegasse ao cérebro e ele deixasse de comandar o corpo. Vi-me levantar da cadeira onde estava sentada, percorrer a mesa de reuniões toda, alcançá-la e envolvê-la num abraço, como se faz às crianças pequenas — Não chores. Não chores.
Paralisado ficou o tempo, naquele momento, em que, por segundos vários, não aconteceu nada, a não ser o abraço paralisante que eu me dei conta de lhe ter ido dar: os restantes quatro, paralisados de incredulidade, eu paralisada por verificar que ainda não sei dominar os meus impulsos nem os meus instintos, ela paralisada dentro de um abraço de braços estranhos, as lágrimas dela paralisadas de paralisia súbita.
Se para mais não serviu, pelo menos, fez de paralisante — garrote — de lágrimas, o abraço que eu me vi dar-lhe hoje.
Nessas situações nunca sabemos muito bem o que fazer... Um abraço deve ser mesmo a melhor coisa.
ResponderEliminarPois não... mas ficar à espera que a pessoa pare de chorar, em público, e numa situação que, para ela, também é constrangedora... antes o abraço.
EliminarHá alturas em que só precisamos de um abraço, nem que seja de um desconhecido.
ResponderEliminarLinda atitude.
Pareceu-me mesmo isso. Talvez me tenha posto no lugar dela, e seria o que me saberia bem a mim.
EliminarÉ sempre preferível um abraço paralisante de uma pessoa impulsiva com bom coração.
ResponderEliminar:)
Beijos LB