10/04/2016

Sempre Mulher

Ela nasceu de duas avós pequeninas, ninguém se espantou que saísse pequenina e não saísse a mim, que foi de mim que saiu. A uma delas levou o cancro, e a falta que nos faz desde aí não se mede aos palmos, assim como ela, que cresceu pouco mais de um metro desde que chegou, e já é mulher. 
Sempre Mulher, a corrida: inscreveu-se sozinha, foi buscar o kit sozinha, e preparava-se para a fazer sozinha, não fora ter uma mãe do género que não se deseja a ninguém, e então lá fomos. 
Não houve chuvada — e se choveu, e como choveu! —, não houve cansaço, não houve atletas de alta competição, a correr a mesma corrida, que a demovessem, ou sequer esmorecessem. 
Correu voando, ligeirinha, como as avós que também a puseram no mundo, por uma causa que lhe ceifou uma delas, para que não ceife mais nenhuma a ninguém. Tinha, na lateral da pista, a enorme claque composta por uma única pessoa, muito inchada de tudo, que por isso parecia mais gente.
Acreditasse eu em céus, e iria jurar que aquela bátega que caiu antes da corrida, foi obra daquela avó que, sempre preocupada com as limpezas, mandou lavar a pista. E depois pingou lágrimas de emoção, aquelas mesmas que lhe caíam a cada gracinha dela, a minha menina, a minha primeira neta...
Sempre, para sempre Mulheres.

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