Contextualizando: eu sempre fui do neologismo. Da metáfora, do eufemismo, é certo, mas o neologismo sempre me acendeu néons cá no cerebelo. Gosto de criá-los, depois libertá-los, aventá-los ao vento, fazendo deles linguagem corrente, ao sabor e cheiro da corrente. A língua portuguesa, já de si tão rica e cheia de pedras preciosas (já para não falar das pérolas que se ouvem d'adonde em d'adonde), é também tão elástica, que é passível e possível de esticar, fazendo nascer, por partenogénese, novas palavrinhas — às vezes, coitadinhas, muito próximas de palavrões, embora, vá, sem a carga inerente.
Também gostei sempre muito de ditados e expressões populares, mas oh, eruditos da nossa praça pública e da privada, antes que me aventem com o peixe à cabeça, deixai-me explicar: os ditados e as expressões povinas são isso mesmo — um reflexo, um refluxo, uma amostra, uma denúncia da génese e do âmago. E contêm, em si mesmos, grandes verdades, daquelas insofismáveis.
Tudo isto para explicar — mais a mim mesma, a quem devo os mais meticulosos esclarecimentos — que, assim como com as palavras, eu sou aquela pessoa que consegue juntar duas expressões populares, e fazer delas uma só. E com lógica.
Já não me chegava a do bom bico.
Ontem quis dizer que, apesar de ser teimosa como a mula da cooperativa (ou não fosse insuportavelmente fêmea), também consigo (reparem na utilização do verbo. É um esforço que a pessoa faz) dar o braço a torcer.
E a simples utilização do verbo torcer deve-me ter torcido o neurónio sobrevivo.
Com aquilo da porca, que torce o rabo.
Ou terei tido um súbito ataque de saudades da minha Porca?
Não sei o que foi, mas vou mandar para análise. O que é certo, é que disse, com o ar mais sério que consigo forjar no dia a dia das pessoas crescidas em que me insiro:
Eu também consigo dar o rabo a torcer.
[óié]
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