Os dias alusivos sugam-me a alma. Ao fim do dia, fiz um cômputo dos beijos recebidos, e restou um quase nada.
Hoje, ao acordar, depois de matutar em sonhos sobre o assunto, contei uns tantos, uns poucos: houve dois a um médico, a quem pago, e outros dois a uma mulher que me cheirou a álcool de todos os poros e dos olhos afora.
Ainda não tinha concluído a minha contabilidade de quatro beijos num dia inteiro, estava o dia quase a acabar, quando ele me disse,
Ainda não tinha concluído a minha contabilidade de quatro beijos num dia inteiro, estava o dia quase a acabar, quando ele me disse,
Toma lá um beijo, para não dizeres que passaste o dia do beijo sem beijos.
E foi um beijo muito abraçado, com todos os nossos braços, todo carregado de promessas de amor eterno, aquelas em que uma pessoa acredita mesmo, porque são feitas e depois assinadas no silêncio — sem declarações faladas nem escritas, sem selo branco, nem lavradas. E, às vezes, sem testemunhas.
Sei hoje o que faria se voltasse atrás no tempo: sei que não mudaria coisa alguma do que fiz, porque até os erros me fizeram falta, para construir esta construção desconstruída que me habituei a habitar. Mas sei também que mudaria muito daquilo que não fiz, e que esse muito seriam tudo beijos que deixei de dar — beijos abraçados incluídos —, que guardei para mim, por egoísmo ou inoportunidade. Alguns teriam sido dados a quem já não poderá recebê-los, a não ser desta forma torta, pela movimentação do ar que as saudades provocam. Outros, porque tiveram o seu tempo próprio que, por não respeitado, perderam cor, sabor e razão de viver — os beijos têm, como qualquer dádiva preciosa, um tempo certo, um minuto exacto, um segundo único, para serem dados.
Assim como toda a contabilidade, a minha é igualmente rigorosa e justa: se deixei uns tantos beijos por dar, também houve uns quantos — muitos — que me ficaram por receber.
Passei o dia a tautear mentalmente Save your kisses for me, que já cantava muito antes de aprender as primeiras palavras em inglês. E que, durante muito tempo, ouvi o meu pai cantar.
Sei hoje o que faria se voltasse atrás no tempo: sei que não mudaria coisa alguma do que fiz, porque até os erros me fizeram falta, para construir esta construção desconstruída que me habituei a habitar. Mas sei também que mudaria muito daquilo que não fiz, e que esse muito seriam tudo beijos que deixei de dar — beijos abraçados incluídos —, que guardei para mim, por egoísmo ou inoportunidade. Alguns teriam sido dados a quem já não poderá recebê-los, a não ser desta forma torta, pela movimentação do ar que as saudades provocam. Outros, porque tiveram o seu tempo próprio que, por não respeitado, perderam cor, sabor e razão de viver — os beijos têm, como qualquer dádiva preciosa, um tempo certo, um minuto exacto, um segundo único, para serem dados.
Assim como toda a contabilidade, a minha é igualmente rigorosa e justa: se deixei uns tantos beijos por dar, também houve uns quantos — muitos — que me ficaram por receber.
Passei o dia a tautear mentalmente Save your kisses for me, que já cantava muito antes de aprender as primeiras palavras em inglês. E que, durante muito tempo, ouvi o meu pai cantar.
Oportunamente e do fundo deste coração mando-te um beijo envolto num abraço.
ResponderEliminarBeijo retribuído, abraçado também, sem demoras e no tempo certo, Be.
EliminarOlha eu não tive direito a beijos nesse dia. Ainda assim tive a abraços...que são os meus eleitos.
ResponderEliminarEu, ora prefiro uns, ora prefiro outros. Desde que consentidas, e sentidas, quaisquer manifestações afecto sabem bem.
EliminarE o que eu cantarolei esta música antes de perceber o significado de guardar beijos para alguém :)
ResponderEliminarUm beijinho, querida Linda, e bom fim de semana
Também eu, Miss Smile :)
EliminarUm beijinho, minha querida. Bom fim de semana