Os teatros deviam ter uma zona reservada e exclusiva a (doces) parolas, ainda que acompanhadas de meninas muito esclarecidas e eruditas, como foi o meu caso hoje.
Fui ver Ricardo III, no Teatro Nacional D. Maria II. Adoro aquelas cadeiras. São poltronas de veludo vermelho, apesar de a disposição delas ter o defeito que têm todos os teatros mais antigos e velhos cinemas: um espaço diminuto entre filas para pôr as pernas. E para tudo, na verdade. Tirar o casaco foi uma aventura capaz de incomodar quatro pessoas e ainda fazer uma luxação nos dois ombros e nos cotovelos, que também são dois. A mala teve que ficar no colo, e, sendo que eu sou mulher de trazer a bigorna lá dentro, aquilo custou-me. Para beber um niquinho de água, ponderei mesmo pedir a um dos meus companheiros do lado que fizesse o favor de ma dar, à laia de biberon.
Fiquei na segunda fila do primeiro balcão, e ainda bem, porque o povo da plateia fartou-se de sofrer, e o do segundo balcão deve ter precisado de binóculos. À minha frente ficou um senhor super-hiper-mega interessado, daqueles intelectuais que vão ao teatro sozinhos. Tinham decorrido uns cinco minutos de peça, minha companheira e eu num grande blá-blá, porque ela sabe mais de História de Inglaterra do que eu de Portugal, e o homem vira-se para trás e faz Chiu! Atão?
Eu achei aquilo altamente ofensivo, e senti-me uma irresponsável, mas ainda bem que não lhe respondi (estou tão crescida) porque, segundos depois, ele há-de ter sido mordido por uma mosca tsé-tsé, que adormeceu regalado, e passou as duas horas e meia que a peça durou a cabecear e a acordar, a um ritmo alucinante de três por minuto. Façam as contas e imaginem a quantidade de cabeçadas no ar que o intelectual do silêncio não deu. Enfim, queria-me calada para poder nanar, mas conseguiu a proeza de ser indiferente à bateria (instrumento musical, mesmo) do palco e aos gritos dos actores. E também ao toque do meu telemóvel de recurso (não era chico, que esse estava silenciado), a meio da peça, coisa que jamais me havia acontecido, e ainda contribuiu para que me sentisse uma irresponsável pela segunda vez na mesma tarde. Parecia um pesadelo, até o encontrar na mala e o asfixiar. Depois tinha uma mensagem de casa que começava assim: "Aconteceu uma coisa" e eu, naquele diminuto espaço, ainda consegui que me caíssem os coisinhos ao chão, só com o ataque de nervos mental que me acometeu. Depois li o resto do texto, que dizia: "Parti a peça da 1,2,3" (minha rica menina, já me partiu tantas coisas desde que começou a andar, aos nove mesinhos, meu prodígio), pelo que me apeteceu chorar de alívio e alegria.
Leram bem: duas horas e meia sem intervalo. É preciso ter um endurance olímpico, que não é para todos. E eu tenho pernas inquietas, aquilo do síndrome. Será que não existem lugares especiais para pessoas como eu? Não posso apanhar-me no escuro, que, se não fico com as pernas aos picos, pica-me o corpo todo. Hoje calhou a vez aos braços. Coçava-me tanto que julgo que passei por agarrada, mal lavada ou alérgica a uma porra qualquer.
Quanto à peça, adorei. A sério. Nós temos actores, encenadores e técnicos de luzes e som que não ficam nada a dever aos outros.
E plateias muito boas, também.
Olá LB,
ResponderEliminarExtra post :
aposto que és açoriana ou viveste nos Açores !
..." niquinho " , " esgrouviado " , " Xô "... não enganam.
Certo ou errado ?
Errado :)
EliminarAlfacíssima, aqui nada e criada.
Então não nascemos na mesma clínica, canudo?
Esta agora !
EliminarE nova acha para a fogueira ... " canudo " !
Clínica S. Miguel !!!!!
Então é daí !
:)
"Canudo", Porto, do meu pai :)
EliminarClínica de S. Miguel, ó ié!
:)
Onde já se viu.....2h30m sem intervalo.....tsc tsc tsc !!! Nem mesmo sendo um filme do Sr. dos Anéis se aguenta :P
ResponderEliminarQualquer dia, têm que pôr caminhas, em vez de cadeiras. Bem pensado para dorminhocos como o outro do chiu :P
EliminarA propósito, mereceste o "chiu" :P
EliminarE ele a sesta :P
EliminarMá escolha de lugar !
ResponderEliminarVais desculpar....
Lugar de camarote (1.º balcão)
10€
Atão ?
Não é por acaso que são mais baratos do que o primeiro balcão: ficam virados de lado para o palco...
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