23/11/2015

Canina (eu)

Éramos as duas pequeninas, só mesmo doze meses de distância, mas ela chamava-me mana canina.


Lembrei-me disto dois dias antes de fazer anos e ela, que não mo chamava há tantos, nesse dia escreveu Olha, a canina faz anos.
Os irmãos são tão esquisitos. Têm uma linguagem só deles, parecem gémeos.
Lembrei-me da Mimi, com dois anos. De repente, deixou de ser a irmã mais nova, porque lhe apareceu uma mais pequena do que ela. As explicações O bebé é uma menina; É a mana, que é pequenina, foram transformadas em Man-mnina é pipi. Depois percebemos que Man-mnina significava, exacta e simplesmente, Maria. 
- Mimi, diz Maria.
- Man-mnina.
- Mana menina. Diz Maria
- Man-mnina.
- Então diz bolacha Maria.
- Baiacha Man-mnina.
Talvez a Maria nunca deixe de ser Man-mnina, assim como eu nunca deixei de ser mana canina — apesar de todas as separações que nos separaram: irreversíveis, irrecuperáveis, eternas. Porque eternas somos, sim — irreversível e irrecuperavelmente.

6 comentários:

  1. Quem tem uma mana, tem tudo :)

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  2. As manas mais velhas, dão muito trabalho a educar... :/

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  3. Nunca deixamos de ser o que fomos nas recordações dos outros. Acho que ser-se irmão é também isso.

    Um beijinho, querida Blue

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    1. E fazem-nos fazer um eterno regresso, que nos sabe a infância nunca perdida :)

      Beijinhos, Miss Smile

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