24/11/2015

Eu fui à Porcalhota

e não me senti em casa. 
Levava um objectivo bastante concreto, que ele, sim, é que me levou lá. E então, fui.
Como sempre, estudei o mapa. E, como sempre, estudei-o tão mal, que me perdi. 
Aquilo começa por que se chama Amadora — que significa aquela que ama. Isto, numa terra que já se chamou Porcalhota. Depois, é uma cidade. E, como tal, tem placas direccionais, que explicam como chegar a Alfornelos, à Falagueira, ao Casal de São Brás e à Brandoa. Mas nunca, jamais e em tempo algum, a Lisboa. Não vá dar-se o caso de a pessoa querer voltar para trás. De a pessoa querer ir para casa. De a pessoa se sentir um peixe fora de água e querer fugir para um buraco qualquer onde haja água. Sei lá, disparates assim. 
Mas vá que fiquei a saber que a Amadora tem rotundas. E depois, elas têm saídas. E as saídas bifurcam logo que se sai por elas afora. Estão a ver, a pessoa sair de uma rotunda e ter, logo ali, a hipótese A e a hipótese B, seguidinhas, para escolher, em 4-3-2-1 segundos?
E tem uma rua, que era a que eu queria para mim, que se chama Elias Garcia, com o comprimento da avenida da Liberdade, mas em estreito. E em curvilíneo. E, em cada curva dessa grande devassa, mais uma transversal, só para baralhar mais um nico a coisa. E muitos, muitos, sentidos obrigatórios, logo seguidos de vias de sentido único, tipo impossível uma pessoa enganar-se e querer inverter a marcha.
E tem números de porta aleatórios. O 5 pode ficar ao lado do 196. Pares de um lado e ímpares do outro? Ah, isso é para esses grandes malucos dos gajos que tiveram o Marquês a traçar-lhes as avenidas. Portanto, supÔnhamos que eu queria o número 174. E que encontrei, ao fim de vários milhares de metros percorridos a penas dos cascos do meu boi, o número 170. Achais vós que foi só parquear o boi e coiso? Não. Ao lado do 170, existia um prédio em ruínas. E, mais ao lado, um terreno baldio. Depois começava outro quarteirão, no número 378. Olhem, eu gostei. Achei muito personalizado. 
Mas fartei-me e voltei, sem nunca ter avistado uma placa que dissesse, tão-só, isto: LISBOA. É que não há, já disse? Segui umas que diziam CRIL e CREL (deve haver com as outras vogais todas, mas ali eram só estas duas), e depois enfiei pela Brandoa adentro, para evitar não sei o quê, e perdi-me.
Tanto numa como noutra das duas, não pude pedir instruções aos transeuntes, porque não os havia (quer dizer, havia, mas eram poucos, e os que havia não pareciam saber onde estavam, quanto mais indicarem-me o caminho da capital do país). A sério, acho que aquelas zonas sofreram alguma desertificação. Alguém tem que ir morar para lá, sob pena de qualquer coisa. 
Entretanto, não cumpri o meu objectivo bastante concreto.
Que chatice.
Pelo menos, tirei um retrato, comprovativo da minha passagem pelo local.

Aquilo que ali está escrito é o nome de um estilo de vestir

Sem comentários:

Enviar um comentário