Encontrei-a mergulhada, inquieta, muda, com aqueles olhos.
Deu um grito, assustou-me,
Não me grite, que eu tenho medo.
E abracei-a.
Tenho tantas saudades suas.
Ela não volta. Nunca mais vai segurar-me na mão para atravessar a rua. Agora segura-me a mão, porque precisa de se agarrar à vida, ou apenas sentir - pelo cheiro das minhas mãos - o que se passa lá fora. Não volta, nunca mais, a conversar comigo. De vez em quando mergulha e desaparece, chego a desejar que estivesse demente. Ao menos vivia uma alternativa que podia ser - queria eu que fosse - mais alegre.
Se me volta a gritar, ponho-a de castigo.
E rimo-nos muito uma para a outra.
Não foi essa a educação que eu lhe dei.
E rimos mais. Eu muito mais. Ela dá aquela segunda gargalhada - ou já só ri de me ver rir - e volta a mergulhar. Quero puxá-la para a superfície, mas ela começa a, sem querer - tenho a certeza - puxar-me para o fundo com ela. Ainda assim, rio-me mais do que a piada que a piada teve.
Agarro-a quase ao colo e passo-a da cadeira de rodas para um cadeirão. Avalio-a para 35 quilos. E digo-lhe:
Gorda.
E ela volta a dar uma gargalhada. Uma única. Mas então, insisto. Não estou satisfeita.
Está gordíssima. Já olhou bem para esses braços e essas pernas?
Olha para eles, cheia de tristeza, e ri-se para mim.
Quero treinar as forças e a estratégia de a levantar da cadeira, para a tirar dali no Natal. Quero dar-lhe o colo que ela nunca mais me vai dar a mim.
Logo agora, que eu precisava tanto.
Tu tens força, companheira! Beijinhos
ResponderEliminarTenho pois. Nem que ela pesasse 80 quilos!
EliminarObrigada, companheira. Beijinhos
Eu sei, tenho a certeza disso :-)
Eliminar:-)
EliminarVou só deixar um beijinho e desejar força.
ResponderEliminarGábi
Obrigada, Gábi. Não me pode falhar.
EliminarUm beijinho.
Pois é... eu isto não consigo comentar assim como gostaria, porque ficam-me as palavras embargadas nos dedos e a alma das letras turva nos olhos.
ResponderEliminarEssa coisa das mães e das filhas é muito avassalador.
Um abraço do tamanho desse querer.
Comentaste na mesma, com essa tua arte tão especial.
EliminarÉ um amor tão grande, que achamos que só pode ser assim pelos filhos, depois vira-o do avesso e ele é tão bonito e tão gigantesco do outro lado, que é o dos pais. E esmaga-nos.
Recebido, sentido e correspondido.