Fui à mercearia, filmei o acontecimento, o que resultou numa curta metragem do mais interessante que possam imaginar, redigi a sinopse, enviei-a para o meu director artístico e ele chumbou-a. No fundo, é isto.
De resto, se vos relatasse a minha vida ao pormenor neste momento, transformava o meu buraco num verdadeiro rosário de amarguras. Só me faltava mais esta.
Mais esta e a multa de estacionamento para pagar. Em Cascais. Ainda tenho que fazer trinta quilómetros (ou 60, uma vez que não tenciono ficar lá a viver) para a pagar. A agente de fiscalização que me autuou (adoro este termo) chama-se Priscila. É que é tudo em mau.
E ainda mais outra, que me esqueci de relatar naquele que foi o meu glorioso fim de tarde de ontem: também meti a roda num buraco daqueles que põem a jante quadrada em segundos, sabem? Curiosamente, a mesma roda que, na véspera, eu tinha atirado para cima de um passeio demasiado alto e tinha levado aquele mesmo pneu a encher de bar, pois conseguira esvaziá-lo deles.
Hoje nem o sol me anima.
Estou farta do Sócrates. Também queria fazer um retiro espiritual assim.
Deixo-vos com a sinopse, pode ser que conheçam alguém na meca e metam uma cunha por mim. Eu depois arranjo-vos entradas grátis na cerimónia de entrega. Como sabem, não é preciso ir ao cabeleireiro e basta pedirem emprestado um vestido à vizinha de baixo, que é costureira, que aquilo já não é o que era. Ou vão à Zara, que nos saldos também se apanha qualquer coisa em conta, dois números acima.
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Linda Porca vai-se aviar
Personagens principais: Linda Porca e Avelino, merceeiro cujo sotaque denuncia a sua origem lamecense.
Personagens secundárias: A Jovem (que ia ali a passar e opinou, com direito a duas únicas falas, mas que são de extrema relevância para o enredo) e Menina Lena (cuja voz aparece como pano de fundo durante o grande plano das courgetes, para criar um ambiente mesmo de mercearia)
Sinopse: Curta metragem cheia de tomates, pepinos e outros legumes fálicos.
LP faz psicoterapia a Avelino, dizendo que sim a tudo o que ele desabafa, enquanto ele se queixa dos vendedores ambulantes - a quem deseja um cataclismo -, e do estado da nação. Há um ou outro close up dos pés chatos da protagonista, verdadeiramente a única coisa chata que ela tem. Ela debruça-se sobre os caixotes, com preocupações mais prosaicas, como, por exemplo, quais são as frutas que estão mais verdes - tângeras ou tangerinas - uma vez que são estas as da sua preferência (as outras que fiquem com a fruta madura). Ao primeiro minuto, após grande plano do polar cinza de Avelino, entra a música ambiente "Única mulher", de Anselmo Ralph, perfeitamente por acaso. LP faz breve alusão ao "manancial de pepinos" que tem em casa e Avelino transporta-lhe as compras para o interior, condoído da avançada idade da senhora. É aí que se dá o feliz encontro de LP com as courgetes, as não-sei-quê e as cenouras.
Podes introduzir espinafres? Adoro espinafres e desde o Popeye que este legume não tem o destaque que merece.
ResponderEliminarNeste filme já não... agora só fazendo outro.
EliminarTalvez denominado "A sopa"? - legendado ou dobrado (nas partes do Avelino) em francês.
Pronto, ok. Eu aguardo serenamente pelo "Sopa". Mas não muito serenamente, despacha lá este e trata da sopeira :D
EliminarNinguém me pede para publicar o filme, isto é uma frustração.
EliminarE tratar da sopeira é o cabo dos trabalhos :D
Hein?
ResponderEliminarChumbaste a minha obra prima :(
EliminarEu?
EliminarPois. Em tempos não pediste um filme com LP a aviar-se no seu dia-a-dia de dona de casa? Eu fiz...
EliminarTu disseste que não servia, eu olha, fiquei nesta tristeza.